Suplementação Animal em Pasto – Parte 01

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Estou escrevendo esse texto no dia 04 de junho de 2025, faltando apenas 17 dias para a entrada da estação de inverno, que na maior parte do território brasileiro coincide com a estação seca do ano. Escreverei uma sequência de artigos associando o manejo de pastagens com a suplementação animal em pasto, estratégia que possibilita maximizar o desempenho individual e a produtividade por área. Para tal vou usar o banco de dados que tenho de resultados de pesquisas que orientei em fazendas de pesquisa e de resultados de campo em fazendas comerciais que atendo e de resultados de pesquisas de outras fontes. Estes artigos serão escritos em duas etapas, a primeira agora no período da seca, com resultados deste período, e a segunda no período das chuvas, com resultados deste período. Os primeiros resultados que apresentarei são de um experimento conduzido no bioma Cerrados, entre os meses de junho e setembro, na estação de inverno, que na região tropical do Brasil, coincide com o período da seca, totalizando 95 dias. Objetivou-se neste experimento avaliar os efeitos de diferentes níveis de suplementação proteica-energética sobre o desempenho animal e as características de carcaça de bovinos machos inteiros da raça Nelore. O trabalho foi conduzido em uma área total de 8 hectares (ha) dividida em dois módulos de pastoreio, de 4 ha cada, divididos em 12 piquetes. Em um dos módulos estava estabelecido o Panicum maximum cv. Mombaça e em outro o Panicum maximum cv. Tanzânia. O método de pastoreio utilizado foi o de lotação rotativa. Durante o experimento foram avaliados 22 bovinos da raça Nelore, machos inteiros, com taxa de lotação de 2,75 cabeças/ha (22 animais/8 ha). Não houve período de adaptação porque antes do início deste experimento os animais já estavam nestas pastagens suplementados com suplemento múltiplo protéico/energético no nível de 0,3% do peso corporal. Durante o experimento os animais foram suplementados com suplemento concentrado nos níveis de oferta de 2% (T1) e 1,5% (T2) do peso corporal. Cada tratamento foi encerrado quando alcançou um consumo total de 500 kg do suplemento. No 75° dia experimental o grupo de animais do T2 atingiu tal consumo e os animais do T1 permaneceram mais 20 dias, totalizando 95 dias experimentais. Durante o experimento foram feitas três pesagens, a primeira no início do experimento, a segunda aos 75 dias e uma terceira, só para os animais do T1, aos 95 dias. Antes de cada pesagem e avaliação por ultrassonografia os animais foram submetidos a períodos de jejum de sólidos por 16 horas. Para avaliação das características de carcaça foi utilizado o aparelho de ultrassonografia Aloka SSD 500V (EletroMedicina Berger, Ltda), equipado com um transdutor linear de 3,5 MHz de frequência e 17,2 cm de comprimento. Foi utilizado óleo vegetal como acoplante acústico. As imagens foram salvas em computador e posteriormente analisadas em software específico por técnico certificado. A partir dessas mensurações foram obtidas 88 imagens coletadas. Os dados de área de olho do lombo (AOL) foram mensurados entre a região da 12a e 13ª costelas, transversalmente ao músculo Longissimus dorsi, já a espessura de gordura subcutânea (EGS) foi medida a ¾ da borda medial sobre o mesmo músculo Longissimus dorsi, e as imagens de espessura de gordura da picanha (EGP), coletadas na garupa, entre o íleo e o ísquio, sendo avaliada a espessura de gordura na picanha. Por meio das imagens de ultrassom foram calculados, por equações de predição, o peso e a percentagem da porção comestível das carcaças, (PERPC e PESPC), a fim de estimar o rendimento dos cortes de alto valor comercial. Após a última pesagem e avaliação por ultrassonografia dos animais de cada tratamento, foi realizado o embarque e transporte até o frigorífico, com uma duração de viagem de aproximadamente 4 horas. O abate foi realizado no dia seguinte, sendo os animais submetidos às etapas no frigorífico: recepção, banho de aspersão, atordoamento, sangria, esfola, evisceração, corte de carcaça e refrigeração. Os animais foram pesados ao final da linha de abate onde se obteve o peso de carcaça quente (PCQ). Com base nesses dados foi calculado o rendimento de carcaça dos animais (RC). O delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, sendo os dados submetidos à análise estatística pelo software SISVAR, versão 5.1, e as médias comparadas teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Na tabela a seguir estão descritos os resultados do desempenho dos animais em pasto e das características de suas carcaças. Os dados apresentados foram coletados nos dias 95 e 75, para os tratamentos 1 e 2, respectivamente. Tabela 1. Resultados de desempenho animal suplementados em pasto e das características de suas carcaças avaliadas por ultrassonografia. Parâmetro Unidade T1 (1,5% PC) T2 (2,0% PC) PCi kg 397,09 a 395,27 a PCf kg 508,63 a 498,81 a PCm kg 452,86 447,04 GMD kg/cabeça/dia 1,174 b 1,380 a EA kg de ganho/kg consumido 0,17 0,15 GC kg/cabeça/dia 0,96 1,24 TLi UA/ha 2,42 2,41 TLf UA/ha 3,10 3,04 Produtividade kg/ha em 75 dias 242 284 Produtividade @/ha em 75 dias 9,19 11,06 RC % 56,96 b 58,30 a PCQ1 kg 289,68 a 290,72 a PCQ2 @ 19,31 19,38 AOL cm2 78,29 a 73,93 b EGS mm 4,57 a 3,86 b EGP mm 6,79 a 5,80 a PESPC kg 207,82 a 200,96 a PERPC % 70,85 a 70,84 a PCi: peso corporal inicial; PCf: peso corporal final; PCm: peso corporal médio; GMD: ganho médio diário; EA: eficiência alimentar; GC: ganho de carcaça; TLi: taxa de lotação inicial; TLf: taxa de lotação final; RC: rendimento de carcaça; PCQ: peso de carcaça quente; AOL: área de olho de lombo; EGS: espessura de gordura subcutânea; EGP: espessura de gordura da picanha; PESPC: peso da porção comestível; PERPC: percentagem da porção comestível. Letras iguais, na linha, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de