Suplementação Animal em Pasto – Parte 03

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.

Dando sequência à série de artigos que comecei escrevendo no dia 03 de junho de 2024, associando o manejo de pastagens com a suplementação animal, este é o último artigo sobre resultados de pesquisas conduzidos na estação da seca.

Objetivou-se neste experimento avaliar os efeitos da disponibilidade de forragem em pastagens de B. brizantha cultivar Marandu (capim-braquiarão) sobre o ganho de peso de animais nelores machos inteiros na fase de recria suplementados com suplemento mineral/proteico/energético com e sem o aditivo virginiamicina, um antibiótico da classe das estreptograminas produzidas por uma linhagem mutante de Streptomyces virginiae.

O trabalho foi conduzido entre os meses de julho e outubro no bioma Cerrados, em uma área de 8 hectares (ha) dividida em dois módulos de pastoreio, de 4 ha cada, divididos em 4 piquetes de 1 ha cada. O método de pastoreio adotado foi o de lotação rotativa, com ciclo de pastoreio de 40 dias, com 30 dias de descanso e 10 dias de ocupação.

Durante o experimento foram avaliados 24 bovinos da raça Nelore, machos inteiros, com idade e peso inicial médios de 11 meses e 251 kg, respectivamente. com taxa de lotação de 3,0 cabeças/ha (24 animais/8 ha) e 1.67 UA/ha. Houve um período de adaptação de duas semanas antes do início da coleta dos dados.

Os animais foram suplementados para um consumo predito de 0,30 % do peso corporal (PC). A dose do aditivo virginiamicina foi de 160 mg/kg de suplemento, ou 45 mg/kg de peso corporal dos animais. Na Tabela 1 estão os níveis de garantia dos suplementos.

Tabela 1. Análises bromatológicas dos suplementos mineral/proteico/energético

TratamentoPB %NDT %Ca %P %FDN %FDA %NNP %Lignina %
VM22,765,25,91,125,816,21,82,3
Testemunha26,465,06,71,332,518,61,73,2

VM: virginiamicina; PB: proteína bruta; NDT: nutrientes digestíveis totais calculados; Ca: cálcio; P: fósforo; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NNP: nitrogênio não-proteico.

Durante o experimento os animais foram pesados mensalmente, após um período de jejum de sólidos por 14 horas.

Foram realizadas mensurações de crescimento e produção de forragem, utilizando a técnica da dupla amostragem: direta, por meio do corte e pesagem da massa de forragem; e indireta, por meio da medida da altura do pasto. Foram coletadas amostras para análises bromatológicas da forragem em cada tratamento. A oferta de forragem planejada foi de 5% do peso corporal dos animais.

O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado, sendo os dados submetidos à análise estatística pelo software SISVAR, versão 5.1, e as médias comparadas teste de Tukey ao nível de 5% de significância.

Durante o período experimental não houve diferença significativa (P > 0,05) para os parâmetros relacionados à disponibilidade de forragem entre os tratamentos (Tabela 2).

Tabela 2 – Parâmetros avaliados das forrageiras

 TL (UA/ha)CS (UA/ha)TA (kg MS/ha/dia)FA (kg MS/ha)MF pp (kg MS/ha)
VM1,7 a1,4 a 26,2 a 1.283,7 a 4.299,4 a
Testemunha1,7 a1,3 a28,2 a1.307,4 a4.461,4 a

VM: virginiamicina; TL (UA/ha): taxa de lotação em unidades animais por hectare; CS: capacidade de suporte em unidades animais por hectare; TA: taxa de acúmulo de forragem em kg de matéria seca por hectare por dia; FA: forragem acumulada entre pastejos em kg de matéria seca por hectare; MF pp: massa de forragem pré-pastejo em kg de matéria seca por hectare. Fonte: JUSTINIANO; ALMEIDA; AGUIAR, 2013.

Observa-se que houve acúmulo de forragem (kg de MS/ha) e consequente taxa de acúmulo (kg MS/ha/dia) mesmo no período mais crítico do ano, entre julho e outubro, o que possibilitou taxas de lotação (1.7 UA/ha) e capacidades de suporte (entre 1.3 e 1.4 UA/ha) mais altas que as alcançadas na maioria das fazendas mesmo no periodo mais favorável do ano, a estação das chuvas. Este acúmulo de forragem na seca é explicado em grande medida pelo correto manejo do pastoreio e as adubações da pastagem no período das chuvas anterior. Este correto manejo trouxe reflexos positivos também na composição química da forragem. A Tabela 3 traz as médias das análises bromatológicas das amostras de forragem coletadas em cada tratamento.

Tabela 3 – Composição química média das forragens

  c/ VMs/ VM
PB (%)11,39,2
NDT (%)59,555,2
Ca (%)0,350,42
P (%)0,200,20
FDN (%)64,771,8
FDA (%)31,434,4
Lignina4.044.12

Legenda: VM: virginiamicina; PB: proteína bruta; NDT: nutrientes digestíveis totais calculados; Ca: cálcio; P: fósforo; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido. Fonte: JUSTINIANO; ALMEIDA; AGUIAR, 2013.

Os consumos médios dos suplementos foram de 0.750 (0.28% do peso) e 0.758 kg/cabeça/dia (0.29% do peso) para animais suplementados com e sem virginiamicina, respectivamente.

Houve diferença significativa (P > 0,05) para o parâmetro ganho médio diário (Tabela 4).

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