Inventário de Recursos em um Sistema de Produção Animal em Pasto – Parte 02

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.

Na primeira parte dessa sequência de textos sobre esse tema citei os objetivos de um inventário de recursos, quando, quem e como fazer. Descrevi quais dados e informações coletar ainda no escritório da fazenda ou da empresa na cidade, ou na fazenda. Nessa segunda parte descreverei quais dados e informações deverão ser coletados em campo.

No campo iniciamos pelas pastagens e seu manejo relacionando a identificação e a área de cada piquete, de cada módulo de pastoreio, o número de piquetes por módulo, o método de pastoreio adotado (se lotação continua, ou lotação alternada ou lotação rotativa), a forrageira predominante e o estado de degradação da pastagem em cada piquete, os erros de manejo do pastoreio, por subpastejo ou por superpastejo.

Atenção especial é dada à infraestrutura da pastagem, tal como os tipos de fonte de água para os animais, de cocho para suplementação e de sombreamento e suas dimensões, para identificar restrições nos seus dimensionamentos e as consequências negativas desta situação; os tipos das cercas e seu estado de conservação. Ainda na pastagem são identificados as plantas daninhas e os insetos pragas que infestam e atacam as plantas forrageiras, suas populações e os programas adotados para seu manejo e controle.

Durante o percurso nas pastagens vai se anotando também dados e informações do rebanho em relação à raça ou cruzamento, as categorias animais, a homogeneidade de apartação dos lotes, a condição corporal dos animais e seu comportamento, escore de fezes, etc.

Da suplementação é preciso ver e anotar os tipos de suplementos fornecidos, se volumosos quais são: silagens, pré-secados, fenos, cana, capim para corte; os minerais, os múltiplos (nitrogenado, proteico, energético) e concentrados que são fornecidos ao rebanho, e as estratégias de suplementação no planejamento alimentar ao longo do ano.

Das benfeitorias e edificações é preciso ver e anotar as características da infraestrutura para orientar qual nível tecnológico de exploração será possível com a já existente e identificar itens que faltam para alcançar outro nível tecnológico de exploração; diagnosticar se a infraestrutura não está pesada, inchada, para o nível de exploração atual e o pretendido. Currais de manejo, de confinamento, galpões, moradias, sistema de água (reservatório), implementos, máquinas e veículos precisam ser relacionados.

Ai, podemos voltar para o “escritório” para lá completar o preenchimento do formulário. Ainda sobre o rebanho serão anotados os pesos corporais médios de cada categoria animal ou lote de apartação para calcular a taxa de lotação, os consumos dos suplementos, seus níveis de garantia, ou se conhece a sua composição por meio de análises bromatológicas. Anota-se também os medicamentos, vacinas, vermífugos aplicados e suas dosagens.

Do calendário anual anotam-se os principais eventos com o rebanho e com as pastagens para poder sugerir calendários específicos.

Do mercado local anota-se quais as cidades mais próximas, para onde o pecuarista vende os produtos; o preço do produto no mercado (carne ou lã ou leite); os preços de animais para cria, recria e engorda, preços de terra; onde compra produtos agropecuários e alternativas de uso da terra para aluguel e arrendamentos, para grãos, florestas, cana, seringueira.

É preciso saber de onde vem o dinheiro investido na atividade e para seu custeio. É próprio? É financiado? Se financiado, quais linhas de financiamento, as taxas de juros, os prazos de carência e para pagamento?

Anotam-se os índices zootécnicos e econômicos para compará-los com os padrões de referência

Da gestão da atividade é preciso conhecer o organograma administrativo (as posições, cargos e funções), o uso de ferramentas de gestão (softwares, planilhas eletrônicas, aplicativos), os pontos fortes e fracos da empresa.

Por fim anotam-se as dúvidas, os objetivos e as metas do pecuarista.

Assim que o pecuarista confirma o trabalho de consultoria eu envio este formulário para ele o preencher e me enviar preenchido pelo menos um mês antes do primeiro trabalho em sua fazenda e neste intervalo de tempo deixo um canal aberto para ele ou quem ele designar poder me consultar para tirar dúvidas de como preencher os campos.

Aqui quero compartilhar com vocês o resultado da aplicação por mim e por colegas que adotam este modelo em seu trabalho de consultoria de mais de 400 formulários deste tipo em 22 anos: se não estou enganado, talvez três ou quatro pecuaristas preencheram o formulário na íntegra. A triste constatação é que a maioria dos pecuaristas não dá importância a dados e informações do seu negócio, não se preocupam com isso, não registram a maioria dos eventos e esta situação dificulta bastante o trabalho de um consultor.

Para não perder o costume, deixe eu perguntar a você pecuarista uma coisa: se um consultor fosse hoje na sua fazenda para fazer um atendimento de consultoria e te perguntasse aqueles dados e informações para preenchimento de um formulário como este, você teria tudo em mãos?