Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.
Hoje, dia 07 de outubro de 2025, já são 15 dias do início da estação de primavera, dia 16 de setembro último caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, de onde estou escrevendo esse texto. Entretanto, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil ainda persistem, de fato agora será o período mais crítico do ano, o de transição seca/chuvas.
Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevi os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. E na parte 03 descrevi as bases para a continuidade da implantação e da condução de sistemas de pastagens irrigadas para a produção animal com base nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 26 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia.
Uma vez estabelecidas a pastagem e a sua infraestrutura, e adotados os procedimentos de manejo do pastoreio, é preciso gerir o crescimento e a produção de forragem, como também a sua utilização e a sua conversão em carne.
Por que gerir a produção de forragem produzida na pastagem e elaborar um planejamento alimentar mesmo em uma pastagem irrigada? As limitações para o crescimento de plantas forrageiras no mundo se distribuem assim: em 36% do globo terrestre o crescimento é limitado pela temperatura; em 31% é limitado por déficit hídrico; em 24% é limitado por ambos os elementos climáticos e em apenas 9% da terra não há limitações de temperatura e de déficit hídrico. Assim, mesmo em uma pastagem irrigada, devido as reduções no fotoperíodo, na radiação solar e na temperatura ambiente, principalmente nas estações de outono inverno, a pastagem apresentará uma estacionalidade de produção de forragem, condição que leva à necessidade de se elaborar um planejamento alimentar.
Os dados apresentados na Tabela 1 foram coletados pela técnica de medição direta (técnica do quadrado) e as medições tiveram início em meados da década de 90, principalmente nos estados de Minas Gerais (MG), São Paulo (SP) e Mato Grosso do Sul (MS) de onde se estabeleceu os potenciais para as pastagens extensivas dos capins Braquiarão (Brachiaria brizantha cv Marandu) e Braquiária decumbens (Brachiaria decumbens); nos estados de MG e SP, para pastagens intensivas sem irrigação dos capins Braquiarão, Mombaça, Tanzânia (Pancium maximum cv Mombaça e Tanzânia) e Tifton 85 (Cynodon sp); e nos estados de MG, Goiás (GO), MS e Bahia (BA), para pastagens intensivas irrigadas dos capins Braquiarão, Decumbens, Mombaça, Ruziziensis (Brachiaria ruziziensis), Tanzânia, Tifton 85, Vaquero (Cynodon dactylon cv Vaquero) e Xaraés ou MG-5 (Brachiaria brizantha cv Xaraés ou MG5). As medições foram conduzidas em fazendas de pesquisas e fazendas comerciais.
Tabela 1 – Taxa de acúmulo de forragem média (kg de MS/ha/dia) e forragem acumulada total (kg de MS/ha/ano) medidas nas unidades monitoradas.
Pastagem | kg MS/ha/dia | |||||
1P | 2V. | 3O. | 4I. | Média | Total | |
Extensiva | 17,4 | 19,4 | 1,5 | 8,5 | 11,8 | 4.337,4 |
Intensiva Sequeiro5 | 93,5 | 120,8 | 71,3 | 26,8 | 78,0 | 28.522 |
Intensiva Irrigada6 | 108,2 | 117,6 | 91,5 | 86,3 | 104,4 | 38.132 |
Legenda: Estações do ano: 1P = primavera; 2V = verão; 3O = outono; 4I = inverno.
5Ambiente com temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.670 mm de precipitação anual (1.261 a 2.033 mm entre mínima e máxima); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos.
6Ambiente com temperatura média anual de 22,5 oC (18,5 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.370 mm de precipitação anual (965 a 1.857 mm entre mínima e máxima); mais 414 a 797 mm de lâmina de irrigação; 474 kg/ha de N, 97 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 41 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos.
Observa-se que as tecnologias de intensificação da produção da pastagem através da correção, adubação e irrigação do solo aumentaram as taxas de acúmulo de forma expressiva, principalmente no inverno (86.3 kg de MS/ha/dia), em comparação com a pastagem manejada intensivamente, mas sem irrigação, pastagem intensiva sequeiro (26,8 kg de MS/ha/dia), entretanto, não foi possível eliminar a estacionalidade de produção de forragem, ou seja, não é possível manter a taxa de acúmulo constante em todas as estações do ano, daí então a necessidade de mesmo neste sistema se fazer o planejamento alimentar para o rebanho.
Uma das práticas para estabelecer as bases para o planejamento alimentar em sistemas pastoris é o cálculo da oferta de forragem dada pela produção da pastagem (kg de MS/ha) e a demanda por forragem para alimentar o rebanho em pasto (UA/ha x kg de MS/UA) através de metodologias de mensuração da forragem disponível. Tal prática ainda tem baixíssima adoção nas fazendas brasileiras, entretanto, os produtores que têm investido na tecnologia de irrigação da pastagem têm sido mais abertos à adoção daquela metodologia devido ao alto nível de investimentos, ao maior custo de produção da forragem e os custos com as altas taxas de lotação (compra de animais, suplementos, vacinas etc.). Assim eles estão conscientes que neste sistema é muito caro errar.
Quais têm sido as alternativas para tamponar as deficiências de forragem em função da estacionalidade de produção da pastagem? Enquanto em sistemas de pastagens extensivas a alternativa mais tradicionalmente adotada pelos produtores é o diferimento da pastagem, em sistemas de pastagens intensivas não irrigadas (sistema de sequeiro) têm sido o confinamento dos animais no período da seca e para tal a maioria das propriedades produzem volumosos suplementares (silagens, pré-secados, fenos etc.) ou então adota-se um modelo de produção estacional com a retirada da fazenda do excedente de animais no período de transição chuva/seca. Por outro lado, em sistemas de pastagens irrigadas tem sido possível tamponar a deficiência de forragem apenas com o semiconfinamento dos animais fornecendo concentrados em níveis que provocam efeito substitutivo, tal como em um sistema de terminação intensiva em pasto (TIP).
Na próxima semana, na parte 05 dessa sequência de textos sobre “Produção de carne em pastagens irrigadas” descreverei os manejos de correção e adubação do solo, e os manejos e controles de plantas daninhas e de insetos pragas nesse sistema de produção – aguarde.