Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 6

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

Hoje, 22 de outubro de 2025, já se passaram 30 dias desde o início da primavera. No dia 16 de setembro, caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, cidade de onde escrevo este texto.
Entretanto, as condições impostas pela seca ainda persistem na maioria das regiões pecuárias do Brasil. De fato, este é o período mais crítico do ano: a transição entre a seca e as chuvas.

Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens.
Na Parte 01 desta série de textos sobre o tema, citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para adoção dessa tecnologia.
Na Parte 02, descrevi os critérios para escolha das espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados, além de apresentar uma sequência de procedimentos para o plantio.
Na Parte 03, abordei as bases para implantação e condução de sistemas de pastagens irrigadas voltados à produção animal, com base nas principais dúvidas observadas ao longo dos meus 26 anos de experiência com essa tecnologia.
Na Parte 04, expliquei por que é fundamental gerir a produção de forragem e elaborar um planejamento alimentar, mesmo em pastagens irrigadas, apresentando também as alternativas para compensar deficiências de forragem conforme a estacionalidade da produção.
Já na Parte 05, descrevi o manejo de correção e adubação do solo, além dos procedimentos de controle de insetos-praga e plantas daninhas em sistemas de pastagens irrigadas.

O objetivo desta sexta parte é apresentar e descrever os ganhos diferenciais proporcionados pela adoção da tecnologia de irrigação em solos de pastagens.

Como a irrigação da pastagem influencia o valor nutritivo da forragem?
O valor nutritivo é determinado por variáveis como composição química e digestibilidade da forragem, sendo influenciado principalmente pelos fatores ambientais — latitude, altitude, luminosidade, temperatura e regime de chuvas —, mas também, e sobretudo, pelo manejo da pastagem, que envolve o controle de plantas daninhas e insetos-praga, o manejo do pastoreio e os níveis de correção e adubação do solo.

A irrigação permite a manutenção praticamente constante do valor nutritivo da forragem ao longo do ano, uma vez que garante níveis adequados de umidade no solo, favorecendo a absorção contínua de nutrientes pela planta — condição inviável em pastagens intensivas não irrigadas durante a seca. Além disso, como a irrigação possibilita maiores taxas de acúmulo de forragem, os níveis de correção e adubação tendem a ser significativamente mais altos em sistemas irrigados, o que também melhora a composição química e o valor nutricional da forragem.

Composição química de forragem de espécies forrageiras manejadas em sistemas de pastagens de sequeiro e irrigadas.

 Determinação
Forrageira/SistemaPBNDTcFDNFDAP
Mombaça sequeiro11,557,969,434,10,20
Tanzânia sequeiro10,257,668,533,80,19
Tifton 85 sequeiro11,460,674,234,70,18
Média111,058,770,734,20,19
B. brizantha irrigado17,260,062,132,30,23
Tifton 85 irrigado16,364,776,636,70,32
Média2 16,7 62,3 69,3 34,5 0,27
B. decumbens irrigado18.167.770.128.50.32
B. ruziziensis irrigado18.467.949.223.60.45
Vaquero irrigado17.668.470.527.00.25
Tifton 85 irrigado19.767.574.731.50.31
Média3 18.4 67.8 66.1 27.6 0.33

Legenda: PB: proteína bruta; NDTc: nutrientes digestíveis calculados; FDN fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; P: fósforo; 1Temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC); 1.670 mm de precipitação (1.261 a 2.033 mm); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos; 2Temperatura média anual de 22,5 oC (18,5 a 25 oC); 1.370 mm de precipitação anual (965 a 1.857 mm); mais 414 a 797 mm de lâmina de irrigação; 474 kg/ha de N, 97 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 41 kg/ha de enxofre; 3Temperatura média anual de 23 oC; 1.319 mm de precipitação anual (746 a 2.262 mm); mais 700 a 800 mm de lâmina de irrigação; 816 kg/ha de N, 192 kg/ha de P2O5, 515 kg/ha de K2O e 17 kg/ha de enxofre. 

Na sétima e ultima parte dessa sequência de artigos sobre pastagens irrigadas citarei e descreverei indicadores de produtividades por animal e por área nesse sistema de produção – aguarde.

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