Estabelecimento da Pastagem por Meio de Mudas – Parte 02

Na Parte 01 dessa sequência de artigos sobre o tema em questão (veja nesse site publicação de 08/12/2025), citei as razões que justificam o estabelecimento de pastagens com plantas forrageiras que só se reproduzem por via vegetativa, ou seja, por meio de mudas, mesmo sendo um método de estabelecimento mais demorado, mais trabalhoso e mais caro. A sequência de procedimentos que apresentei para o plantio de pastagens por meio de sementes deve ser seguida para o plantio de pastagens por meio de mudas. A saber: escolha da área, medida e mapeamento da área, coleta de solo para análise, interpretação das análises de solos e recomendações de correção e adubação, estudo das condições do ambiente para a escolha das espécies forrageiras, planejamento, execução com a limpeza do terreno, correção e preparo do solo. As diferenças começam na etapa da compra das sementes, quando então o produtor deverá se preocupar com a aquisição de mudas. Estas podem ser compradas de produtores especializados na produção de mudas, ou são ganhadas de produtores vizinhos e de produtores amigos. Aqui é preciso ter muito cuidado porque existe muita confusão em relação à identificação das espécies e mais ainda de variedades e de cultivares dentro das espécies. Isso porque o produtor não sabe como identificar e diferenciar as plantas por meio de suas características botânicas. Por exemplo, tem sido um problema os erros na identificação de espécies e cultivares de forrageiras do gênero Cynodon sp, tem muitas misturas em viveiros onde as mudas são colhidas. Este tipo de problema pode ser evitado com a compra de mudas de produtores especializados ou quando o produtor ganhar as mudas um técnico deverá ir até a área para identificar e diferenciar as forrageiras. A área de onde as mudas será colhida (canteiro ou viveiro de mudas) é fundamental seguir a seguinte sequência de procedimentos: colocar animais para pastejarem na área; após a retirada dos animais da área roçar o resíduo pós-pastejo; na rebrota se houver a presença de plantas daninhas e de insetos pragas fazer seu controle; adubar de acordo com o resultado de análise de solo para aumentar o volume e a qualidade das mudas que serão colhidas. As mudas podem ser cortadas com equipamentos manuais (enxada, enxadão, segadora), roçadora costal ou segadora mecanizada. A colheita de mudas de Amendoim forrageiro deve preferencialmente ser com enxada manual para colher mudas de melhor qualidade e com maior viabilidade de brotação. É preciso planejar a data limite para a execução destes procedimentos para que as mudas tenham uma idade entre três e seis meses de rebrota para estarem maduras e com gemas desenvolvidas. Mudas muito tenras podem morrer por apodrecimento ou por desidratação se logo após o seu plantio ficar muitos dias chuvosos e com muita nebulosidade ou muitos dias seguidos de estiagem, respectivamente. Os métodos de plantio por meio de mudas são variados como pode ser observado no quadro abaixo. Método de plantio Forrageira Na cova A lanço sobre um solo gradeado No sulco manual No sulco mecanizado em um solo gradeado No sulco mecanizado em plantio direto Arachis sp X X X X X Brachiaria sp X X X X X Cynodon sp X X X X X Digitaria sp X X X X X Echinochloa X X X X X Pennisetum X X X A quantidade de mudas demandada varia de acordo com o método de plantio, como observa-se no quadro abaixo. Método de plantio Rendimento de trabalho Espaçamento (m) Demanda de mudas (t/ha) Rendimento de 1 ha de viveiro por colheita (ha) Na cova 15 a 20 diárias/ha 0,25 x 1,0 3,0 a 4,0 10 Em sulcos 11 a 16 diárias/ha 0,25 x 1,0 2,0 a 2,5 15 A lanço 6 a 11 diárias/ha 4,0 a 5,0 7 Mecanizado 3 a 4 ha/dia 0,25 x 1,0 2,0 a 2,5 15 No caso da adubação de plantio o adubo é depositado dentro da cova ou do sulco antes da deposição das mudas, e no plantio a lanço o adubo de plantio é aplicado a lanço antes de espalhar as mudas sobre o terreno. Como as sementes, as mudas devem ser cobertas por terra para evitar que fiquem expostas à radiação solar e se desidratem podendo até morrer, se houver estiagem prolongada. Quando o plantio é feito com mudas com reservas e gemas maduras, e sendo enterradas, podem tolerar entre duas a três semanas de estiagem sem perder significativamente sua viabilidade. O enterro das mudas e a compactação do solo também possibilita maior superfície de contato muda/solo acelerando e uniformizando a brotação das mudas. No caso do plantio de capim-tifton 85 existem vários ingredientes de herbicidas que podem ser aplicados em pré-plantio e em pré-emergência. No caso do plantio de cultivares de capim-elefante tem alternativas para pré-emergência. O sucesso do estabelecimento de pastagens por meio de mudas é mais dependente da regularidade das chuvas e da umidade do solo do que o estabelecimento por meio de sementes. Assim, é prudente esperar um acúmulo de pelo menos 100 mm de chuvas e só plantar quando o solo estiver úmido e houver previsão segura de chuvas para os próximos dias. Em condições de temperatura e umidade adequadas a brotação das mudas tem início entre sete e 10 dias após o plantio. É preciso anotar a data deste evento para em três a quatro semanas fazer uma adubação de cobertura, geralmente com nitrogênio e potássio, e em até seis semanas controlar plantas daninhas. Anotar a data da adubação de cobertura. Mais duas a três semanas após a adubação de cobertura recomenda-se um primeiro pastejo ou uma primeira colheita mecânica (ensilagem ou fenação ou pré-secagem). Mas um parâmetro mais consistente que dias é a altura alvo para cada forrageira. A desfolha neste estádio é fundamental para estimular o perfilhamento e o enraizamento das plantas, aumentar a área foliar e a densidade da massa de forragem e a cobertura rápida do terreno etc.
Estabelecimento da Pastagem por Meio de Mudas – Parte 01

Toda a abordagem que fiz nas edições anteriores sobre o estabelecimento da pastagem foi baseada em fundamentos para o plantio por meio de sementes. Entretanto nem todas as plantas forrageiras produzem sementes viáveis. Vale a máxima que qualquer forrageira pode ser plantada por meio de mudas, mas nem todas podem ser estabelecidas por meio de sementes. De fato, até o início da década de 70 do século passado praticamente toda a pastagem, mesmo aquela que foi estabelecida com forrageiras que produzem sementes viáveis, foi plantada por mudas, porque ainda não existiam empresas produtoras e comercializadoras de sementes de forrageiras. Mas a partir da década de 70 do século passado apenas aquelas espécies que de fato não produzem sementes viáveis é que continuaram sendo plantadas por meio de mudas. Destaco aqui as forrageiras das espécies Brachiaria arrecta (Braquiária do brejo ou Braquiária tóxica ou Braquiária Tanner-grass), Brachiaria mutica (capim-angola ou capim-bengo), Brachiaria arrecta x Brachiaria mutica (capim-tangola ou Gramão do Pará), Digitaria decumbens (capins Pangola e Transvala), Hermathria altíssima (capim-hermatria) e Pennisetumpurpureum (capim-elefante), e as dos gêneros Cynodonsp (gramas Coastcross, Estrelas, Jiggs, Tiftons, etc) e Echinochloa sp (canaranas prostrada, a pilosa e a lisa).E ainda a espécie leguminosa Arachis pintoi cultivar Belmonte (Amendoim forrageiro). Mas aqui o pecuarista ou o técnico pergunta: o plantio por mudas não é muito mais demorado e mais caro que o plantio por sementes? A resposta é, sim. Então o que justifica a escolha pelo plantio por mudas e não por sementes? Vamos lá: até o final da década de noventa do século passado os cultivares de capim-elefante foram os mais plantados para o manejo sob cortes em capineiras e para a produção de silagem de gramíneas. A partir do início dos anos 2000 os cultivares de porte alto e muito alto da espécie Panicum maximum, particularmente o capim-mombaça, têm sido os preferidos para a produção de silagem de gramíneas, com a vantagem e serem plantados por sementes. Por isso, os cultivares de capim-elefante têm caído em desuso. A maioria das espécies forrageiras que toleram a condição de solos com drenagem imperfeita (solos temporariamente ou permanentemente encharcados) não produzem sementes viáveis. São elas as já citadas Braquiárias do brejo, o Angola, o Tangola, as Canaranas, as gramas Estrelas, o Amendoim forrageiro. Para a produção de feno e pré-secado, para pastagens para equídeos e para animais jovens (bezerros mamando e recém-desmamados), as melhores opções forrageiras não produzem sementes viáveis. São elas os capins Pangola e Transvala, as gramas do gênero Cynodon, por serem de porte muito baixo, por apresentarem maior relação folha/caule, por produzirem caules finos, por serem de hábito de crescimento estolonífero crescimento que proporciona maior tolerância a cortes (para fenação ou pré-secagem) e pastejos intensos e frequentes (hábito de pastejo dos equídeos). Estas gramas também são indicadas para o plantio em terrenos com relevos ondulados porque seu hábito de crescimento possibilita maior proteção do solo contra a erosão. Desde meados da década de 90 o capim-tifton 85 tem se apresentado tanto na pesquisa como nas fazendas comerciais como a melhor opção de forrageira para pastagens irrigadas em ambientes com maiores altitudes e latitudes (regiões mais ao sul do Brasil).Outra razão para o plantio desta forrageira se deve à sua alta tolerância à uma grande variedade de ingredientes de herbicidas que não são tolerados por outras forrageiras, o que o torna uma excelente alternativa para o estabelecimento e manejo de pastagens em áreas altamente infestadas por plantas infestantes de folhas estreitas tais como as espécies Digitaria insularis (capim-amargoso), Eragrostis plana(capim-annoni), Paspalum virgatum (capim-navalha), Sporobolus indicus (capim-capeta), e mesmo para áreas antes cultivadas com forrageiras que produzem sementes viáveis dos gêneros Brachiaria sp, Panicum spetc, mas o produtor quer substitui-los. Na próxima edição descreverei as etapas e a sequência de procedimentos para o estabelecimento da pastagem por meio de mudas – aguarde.
Semeadura de Pastagens – Parte 02

Dia 24 de novembro de 2025, semeadura feita (leia a parte 01 dessa sequência de textos no meu site), após a semeadura as sementes devem ser enterradas ou podem ficar na superfície do solo? O ideal é enterrar as sementes pois se ficarem na superfície do solo os riscos de haver falhas na germinação e, portanto, no estande de plantas, é grande. Isso porque as sementes podem ser levadas pelo vento (são muito leves), por águas das chuvas, por insetos (principalmente formigas), por pássaros, podem se desidratar pela exposição ao sol(um solo preparado, em um dia de primavera ou verão, com alta radiação solar, pode alcançar temperaturas acima de 50 graus nas horas mais quentes do dia). O enterro das sementes tem sido realizado por compactação, com rolos compactadores, ou com o rodado do trator (menores áreas) e por enterro, com grade leve ou niveladora totalmente fechada. Estes dois métodos de proteção das sementes são adotados quando a semeadura é feita a lanço em áreas mecanizáveis. Quando se usa plantadoras de grãos estas têm mecanismos de abertura da linha, deposição das sementes na linha, seu cobrimento e compactação. Mas se a semeadura for feita a lanço e as sementes não forem protegidas por compactação ou enterro, por exemplo, em áreas não mecanizáveis, mais uma vez, a taxa de semeadura deve ser aumentada em pelo menos duas a três vezes. Para definir a profundidade de semeadura deve ser considerado o tamanho das sementes. Para sementes pequenas e mais leves, tais como as das forrageiras dos gêneros Andropogon, Cenchrus, Cynodon, Panicum, Pennisetum, Setaria, tem sido recomendado compactá-las com rolo compactador ou com o rodado do trator, compactando-as até 2 cm de profundidade. Já para sementes grandes e mais pesadas, tais como as das forrageiras do gênero Brachiaria, tem sido recomendado seu enterro com grade niveladora totalmente fechada, enterrando-as até 6 a 8 cm de profundidade. Entretanto, nos plantios no cedo (no pó ou na poeira) e nos plantios no tarde; em regiões semiáridas; em solos arenosos, é prudente independentemente do tamanho e do peso das sementes enterrá-las com grade niveladora totalmente fechada. Nestas condições mesmo que a superfície do solo seque ainda haverá umidade em maiores profundidades aumentando a probabilidade de sucesso da germinação das sementes. Em muitas situações o solo foi excessivamente preparado com arados, grades, e ficou muito pulverizado (fofo). Nesta condição é prudente compactá-lo antes de semear para garantir uma profundidade de semeadura mais homogênea, evitando que sementes fiquem muito profundas encobertas pelo solo (assoreadas), evitando também erosões provocadas por chuvas fortes que arrastarão o solo já que este estará muito pulverizado, e junto serão levados sementes e adubos. Mas o melhor mesmo é compactar o solo antes da semeadura, semear, enterrar as sementes com grade seguido de sua compactação porque permite uma melhor distribuição das sementes em diferentes camadas de profundidade no perfil do solo, evita o assoreamento das sementes, colocando-as muito profundas no perfil do solo, ou as deixando expostas na superfície. Em relação ao estande desejado de plântulas após a germinação das sementes as metas são entre 15 a 20 plântulas/m2 para forrageiras de hábitos de crescimento subprostrado e prostrado, tais como as dosgêneros Brachiaria e Cynodon, e entre 40 a 50 plântulas/m2, para forrageiras de hábito de crescimento ereto, tais como as dos gêneros Andropogon, Cenchrus, Pennisetum, e Setaria. Em 34 anos de trabalho como consultor presenciei várias vezes o pecuarista economizando com a compra de sementes, tanto na sua qualidade quanto na sua quantidade. Entretanto o investimento em sementes certificadas de alto padrão e plantadas nas taxas de semeaduras adequadas representa entre 4,6 e 14,3% do investimento no estabelecimento da pastagem. Se a área for explorada para a produção de volumosos suplementares (fenos, silagens, pré-secados) esta será a proporção do valor investido em sementes no valor total do investimento na área já estabelecida. Mas se for uma área que será explorada sob pastejo será preciso construir a infraestrutura da pastagem (cercas, cochos, bebedouro) e aí o investimento na compra de sementes representará entre 1,8 a 6,3% doinvestimento total. E ao depreciar o investimento no estabelecimento da pastagem, o valorda compra de sementes irá representar entre 1,96 a 6,77% do custo fixo, se a área for explorada para a produção de volumosos suplementares e entre 1,1 a 3,92% do custo fixo se for explorada sob pastejo. Ou seja, não há justificativa nem técnica e nem econômica economizar na compra de sementes.
Semeadura de Pastagens – Parte 01

No dia 17 de novembro de 2025, com as sementes já compradas e armazenadas na propriedade, o solo preparado e as chuvas regularizadas na região, chega o momento ideal para a semeadura. Quais são os procedimentos a serem seguidos para garantir o estabelecimento de uma boa pastagem? Qual é a melhor época de semear? Quais devem ser as condições climáticas? Qual é a taxa ideal de semeadura? Quais são os métodos disponíveis? Que máquinas utilizar?O objetivo deste artigo é responder a essas perguntas, muito frequentes no meio pecuário. Com base em experimentos de longo prazo realizados pela EMBRAPA e por outras instituições de pesquisa, além de ampla experiência de campo, conclui-se que, em fazendas localizadas desde o norte do Paraná até os estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, a semeadura realizada entre a segunda quinzena de outubro e a primeira quinzena de janeiro apresenta os melhores resultados: maior estande de plântulas logo após a germinação, estabelecimento mais rápido da pastagem, menor infestação por plantas daninhas e maior disponibilidade de forragem no primeiro uso da área — seja por pastejo, seja por colheita mecanizada (ensilagem, fenação ou pré-secagem). No entanto, a semeadura também é praticada fora dessa janela:– cedo, em setembro/outubro, conhecida como semeadura “no pó”, “na poeira” ou “no cedo”, com solo ainda seco;– ou tardiamente, no final das chuvas, em março/abril. A semeadura no cedo (na poeira) é recomendada em solos de baixadas, onde o lençol freático é superficial e o solo fica encharcado logo após as chuvas, impedindo o trânsito de máquinas e veículos; ou em áreas altas com solos de argilas expansivas, que também dificultam a mecanização quando umedecidas. Já a semeadura tardia é recomendada para regiões com chuvas irregulares na primavera e início do verão, com ocorrência de veranicos, e para regiões mais ao norte, no bioma Amazônico, onde as chuvas se estendem até maio/junho e as temperaturas não caem como no Centro-Sul do país. Para uma germinação rápida e vigorosa de sementes de forrageiras tropicais, a temperatura ambiente deve estar acima de 18 °C. O importante nas semeaduras cedo e tardia é aumentar a taxa de semeadura em pelo menos duas a três vezes, em comparação com a semeadura dentro da janela ideal. A semeadura pode ser feita:– a lanço, manualmente;– manualmente em covas;– a lanço com aeronaves (aviões ou drones);– a lanço com distribuidores de adubos;– a lanço com semeadoras;– em linha, com plantadoras de grãos.Todos esses métodos podem ser aplicados tanto sobre solo preparado quanto sobre palhada em plantio direto. Os métodos de limpeza do terreno e preparo do solo determinam a forma de semeadura. Se a área foi limpa pelo método tradicional, com uso de fogo, não haverá preparo de solo devido aos obstáculos (tocos, troncos, árvores etc.). Nesses casos, a semeadura será manual a lanço ou em covas, em pequenas áreas, ou por aeronaves, em grandes áreas. Se a área não tiver esses obstáculos, mas o relevo apresentar declividade que inviabiliza a mecanização, os métodos seguem os mesmos — para pequenas áreas, semeadura manual; para grandes áreas, semeadura aérea; podendo ainda ser utilizada tração animal. Se a área foi limpa mecanicamente, ou se era uma pastagem degradada, ou ainda uma lavoura convencional, o solo estará apto para preparo. Nesses casos, é possível semear a lanço com distribuidores de adubos, a lanço com semeadoras ou em linha com plantadoras de grãos. Quando a área já era cultivada em sistema de plantio direto, não há limpeza ou preparo do solo, e a semeadura é realizada em linha, com plantadoras de plantio direto, ou a lanço sobre a palhada após a colheita. Também pode ser feita a sobressemeadura, ainda com a cultura agrícola em pé, prática comum sobre lavouras de soja ao final do ciclo — utilizando aeronaves, distribuidores de adubos ou semeadoras acopladas em barras de pulverizadores. Na próxima semana escreverei a Parte 02 desta série sobre semeadura de pastagens. Aguarde.
Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 7

Hoje, dia 04 de novembro de 2025, já são 43 dias do início da estação de primavera, dia 16 de setembro último caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, de onde estou escrevendo esse texto. Entretanto, as chuvas vieram irregulares, com baixas precipitações, e as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil ainda persistem, de fato agora será o período mais crítico do ano, o de transição seca/chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevi os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. Na parte 03 descrevi as bases para a continuidade da implantação e da condução de sistemas de pastagens irrigadas para a produção animal com base nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 26 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia. Na parte 04 expliquei porque gerir a produção de forragem produzida na pastagem e a importância de se elaborar um planejamento alimentar mesmo em uma pastagem irrigada e quais têm sido as alternativas para tamponar as deficiências de forragem em função da estacionalidade de produção da pastagem. Na parte 05 citei e descrevi o manejo de correção e adubação do solo e os manejos e controles de insetos pragas e plantas daninhas em sistemas de pastagens irrigadas. E na sexta parte citei e descrevi ganhos diferenciais trazidos pela adoção da tecnologia de irrigação de solos de pastagens. Por fim, a sétima e ultima parte dessa sequência de textos sobre o tema finalizarei apresentando indicadores de produtividade de pastagens irrigadas. Na Tabela 1 estão compilados resultados de desempenho animal em pastagens irrigadas em cinco sistemas de produção sendo sete pivôs centrais e um sistema de aspersão em malha. Tabela 1 – Ganho médio diário (GMD) de bovinos de corte em pastagens irrigadas suplementados com diferentes tipos de suplementos. Estado Sexo/GS Tipo/nível e suplemento GMD (kg/dia) GO MI, Z, C CE e 0,5% 0,83 a 1,01 MG F, MI, Z CE e 0,4% 0,96 a 0,99 MG MI, Z CE e 1,0% 1,11 MG MI, Z MM e 0,02% 0.78 MS F e MI, Z, C MM e 0.02% 0,59 a 0,63 Legenda: sexo: MI: macho inteiro, F: fêmea; GS: grau de sangue dos animais: Z: zebuíno, C: cruzamentos; Tipo de suplemento: CE: concentrado energético (milho + mistura mineral + sal comum + aditivos), MM: mistura mineral; nível de suplementação: em % do peso corporal dos animais. Observa-se que a suplementação em níveis de 0,4 a 0,5% do peso corporal aumentou o GMD em 0,05 a 0,42 kg/cabeça/dia, enquanto no nível de 1% os aumentos variaram entre 0,33 a 0,52 kg/cabeça/dia em relação às suplementações com mistura mineral. Na Tabela 2 estão compilados resultados com os parâmetros taxa de lotação em unidades animais e a produtividade em arrobas por hectare ano dos mesmos sistemas de produção cujos resultados de ganho individual por animal foram apresentados no Tabela 1. Tabela 2 – Taxas de lotação e produtividades de carne bovina alcançadas em pastagens irrigadas. Estado UA/ha @/ha/ano GO 6,9 (5,7 a 8,5) 73 (54 a 94) MG 10,2 144 (120 a 170) MG 6,8 115 MG 8,9 (7,4 a 9,8) 98 (93 a 102) MS 6,6 (6,4 a 7,7) 64 (55 a 85) Legenda: UA/ha: unidades animais por hectare; @/ha/ano: arrobas por hectare por ano. Estes resultados apresentados poderão ser usados pelos técnicos e pecuaristas para a elaboração de avaliações de viabilidade técnica e econômica para a tomada de decisão da adoção da tecnologia de irrigação de pastagens para a produção de carne bovina.
Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 6

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite. Hoje, 22 de outubro de 2025, já se passaram 30 dias desde o início da primavera. No dia 16 de setembro, caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, cidade de onde escrevo este texto.Entretanto, as condições impostas pela seca ainda persistem na maioria das regiões pecuárias do Brasil. De fato, este é o período mais crítico do ano: a transição entre a seca e as chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens.Na Parte 01 desta série de textos sobre o tema, citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para adoção dessa tecnologia.Na Parte 02, descrevi os critérios para escolha das espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados, além de apresentar uma sequência de procedimentos para o plantio.Na Parte 03, abordei as bases para implantação e condução de sistemas de pastagens irrigadas voltados à produção animal, com base nas principais dúvidas observadas ao longo dos meus 26 anos de experiência com essa tecnologia.Na Parte 04, expliquei por que é fundamental gerir a produção de forragem e elaborar um planejamento alimentar, mesmo em pastagens irrigadas, apresentando também as alternativas para compensar deficiências de forragem conforme a estacionalidade da produção.Já na Parte 05, descrevi o manejo de correção e adubação do solo, além dos procedimentos de controle de insetos-praga e plantas daninhas em sistemas de pastagens irrigadas. O objetivo desta sexta parte é apresentar e descrever os ganhos diferenciais proporcionados pela adoção da tecnologia de irrigação em solos de pastagens. Como a irrigação da pastagem influencia o valor nutritivo da forragem?O valor nutritivo é determinado por variáveis como composição química e digestibilidade da forragem, sendo influenciado principalmente pelos fatores ambientais — latitude, altitude, luminosidade, temperatura e regime de chuvas —, mas também, e sobretudo, pelo manejo da pastagem, que envolve o controle de plantas daninhas e insetos-praga, o manejo do pastoreio e os níveis de correção e adubação do solo. A irrigação permite a manutenção praticamente constante do valor nutritivo da forragem ao longo do ano, uma vez que garante níveis adequados de umidade no solo, favorecendo a absorção contínua de nutrientes pela planta — condição inviável em pastagens intensivas não irrigadas durante a seca. Além disso, como a irrigação possibilita maiores taxas de acúmulo de forragem, os níveis de correção e adubação tendem a ser significativamente mais altos em sistemas irrigados, o que também melhora a composição química e o valor nutricional da forragem. Composição química de forragem de espécies forrageiras manejadas em sistemas de pastagens de sequeiro e irrigadas. Determinação Forrageira/Sistema PB NDTc FDN FDA P Mombaça sequeiro 11,5 57,9 69,4 34,1 0,20 Tanzânia sequeiro 10,2 57,6 68,5 33,8 0,19 Tifton 85 sequeiro 11,4 60,6 74,2 34,7 0,18 Média1 11,0 58,7 70,7 34,2 0,19 B. brizantha irrigado 17,2 60,0 62,1 32,3 0,23 Tifton 85 irrigado 16,3 64,7 76,6 36,7 0,32 Média2 16,7 62,3 69,3 34,5 0,27 B. decumbens irrigado 18.1 67.7 70.1 28.5 0.32 B. ruziziensis irrigado 18.4 67.9 49.2 23.6 0.45 Vaquero irrigado 17.6 68.4 70.5 27.0 0.25 Tifton 85 irrigado 19.7 67.5 74.7 31.5 0.31 Média3 18.4 67.8 66.1 27.6 0.33 Legenda: PB: proteína bruta; NDTc: nutrientes digestíveis calculados; FDN fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; P: fósforo; 1Temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC); 1.670 mm de precipitação (1.261 a 2.033 mm); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos; 2Temperatura média anual de 22,5 oC (18,5 a 25 oC); 1.370 mm de precipitação anual (965 a 1.857 mm); mais 414 a 797 mm de lâmina de irrigação; 474 kg/ha de N, 97 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 41 kg/ha de enxofre; 3Temperatura média anual de 23 oC; 1.319 mm de precipitação anual (746 a 2.262 mm); mais 700 a 800 mm de lâmina de irrigação; 816 kg/ha de N, 192 kg/ha de P2O5, 515 kg/ha de K2O e 17 kg/ha de enxofre. Na sétima e ultima parte dessa sequência de artigos sobre pastagens irrigadas citarei e descreverei indicadores de produtividades por animal e por área nesse sistema de produção – aguarde.
Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 5

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite. Hoje, 16 de outubro de 2025, já se passaram 24 dias desde o início da primavera. No dia 16 de setembro, caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, cidade de onde escrevo este texto.Entretanto, as condições impostas pela seca na maioria das regiões pecuárias do Brasil ainda persistem. Na verdade, agora se inicia o período mais crítico do ano — a transição entre a seca e as chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens.Na parte 01 desta sequência de textos, abordei os objetivos da irrigação de pastagens e como recomendo o início de um projeto para adoção dessa tecnologia.Na parte 02, descrevi os critérios para escolha das espécies forrageiras mais adequadas aos sistemas irrigados e apresentei uma sequência de procedimentos para o plantio da pastagem.Na parte 03, tratei das etapas de implantação e condução de sistemas irrigados voltados à produção animal, com base nas principais dúvidas que venho recebendo nos últimos 26 anos de trabalho com essa tecnologia.Por fim, na parte 04, expliquei a importância do planejamento alimentar mesmo em pastagens irrigadas e as alternativas para compensar deficiências de forragem em função da estacionalidade produtiva. Como deve ser feita a correção e adubação de solos de uma pastagem irrigada?As etapas de um programa de manejo da fertilidade do solo em uma pastagem irrigada devem seguir os mesmos princípios adotados em sistemas de sequeiro.As diferenças estão na possibilidade de adubar o ano inteiro, nas doses mais elevadas de fertilizantes — devido ao maior potencial produtivo proporcionado pela irrigação — e na maior eficiência de uso dos nutrientes, já que a irrigação permite controle da umidade do solo, potencializando as respostas, especialmente às adubações nitrogenadas. A irrigação tem proporcionado incrementos nas respostas à aplicação de ureia (N) que variam de 20% para a dose de 200 kg/ha a 52% para a dose de 600 kg/ha. Como é a infestação de plantas daninhas em pastagens irrigadas?Quando todas as recomendações técnicas abordadas nos artigos anteriores são seguidas, a planta forrageira encontra condições extremamente favoráveis para competir com as plantas daninhas por luz, dióxido de carbono, espaço, água e nutrientes. Além disso, considerando os altos investimentos e custos dos sistemas irrigados, o custo relativo com o controle de plantas daninhas é muito baixo, mas ainda assim o produtor não deve negligenciar essa prática. Como é a infestação de insetos-praga em pastagens irrigadas?Essas áreas têm sido atacadas tanto por insetos-praga específicos, como as cigarrinhas-das-pastagens, quanto por pragas generalistas, como lagartas cortadeiras, larvas de besouros (corós) e cigarrinhas-dos-canaviais. Ainda assim, em função do alto nível tecnológico e dos custos já incorporados ao sistema, as despesas com controle de pragas são relativamente baixas, desde que o produtor mantenha o manejo preventivo em dia. Além disso, a irrigação possibilita o uso da insetigação — aplicação de inseticidas via sistema de irrigação —, o que facilita e reduz o custo do controle. O ambiente irrigado também favorece o uso de inseticidas biológicos, especialmente à base de fungos, devido à manutenção da umidade no solo. Vamos parando por aqui.Na próxima semana, abordarei os resultados de produção animal em pastagens irrigadas — aguarde.
Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 4

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Hoje, dia 07 de outubro de 2025, já são 15 dias do início da estação de primavera, dia 16 de setembro último caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, de onde estou escrevendo esse texto. Entretanto, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil ainda persistem, de fato agora será o período mais crítico do ano, o de transição seca/chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevi os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. E na parte 03 descrevi as bases para a continuidade da implantação e da condução de sistemas de pastagens irrigadas para a produção animal com base nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 26 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia. Uma vez estabelecidas a pastagem e a sua infraestrutura, e adotados os procedimentos de manejo do pastoreio, é preciso gerir o crescimento e a produção de forragem, como também a sua utilização e a sua conversão em carne. Por que gerir a produção de forragem produzida na pastagem e elaborar um planejamento alimentar mesmo em uma pastagem irrigada? As limitações para o crescimento de plantas forrageiras no mundo se distribuem assim: em 36% do globo terrestre o crescimento é limitado pela temperatura; em 31% é limitado por déficit hídrico; em 24% é limitado por ambos os elementos climáticos e em apenas 9% da terra não há limitações de temperatura e de déficit hídrico. Assim, mesmo em uma pastagem irrigada, devido as reduções no fotoperíodo, na radiação solar e na temperatura ambiente, principalmente nas estações de outono inverno, a pastagem apresentará uma estacionalidade de produção de forragem, condição que leva à necessidade de se elaborar um planejamento alimentar. Os dados apresentados na Tabela 1 foram coletados pela técnica de medição direta (técnica do quadrado) e as medições tiveram início em meados da década de 90, principalmente nos estados de Minas Gerais (MG), São Paulo (SP) e Mato Grosso do Sul (MS) de onde se estabeleceu os potenciais para as pastagens extensivas dos capins Braquiarão (Brachiaria brizantha cv Marandu) e Braquiária decumbens (Brachiaria decumbens); nos estados de MG e SP, para pastagens intensivas sem irrigação dos capins Braquiarão, Mombaça, Tanzânia (Pancium maximum cv Mombaça e Tanzânia) e Tifton 85 (Cynodon sp); e nos estados de MG, Goiás (GO), MS e Bahia (BA), para pastagens intensivas irrigadas dos capins Braquiarão, Decumbens, Mombaça, Ruziziensis (Brachiaria ruziziensis), Tanzânia, Tifton 85, Vaquero (Cynodon dactylon cv Vaquero) e Xaraés ou MG-5 (Brachiaria brizantha cv Xaraés ou MG5). As medições foram conduzidas em fazendas de pesquisas e fazendas comerciais. Tabela 1 – Taxa de acúmulo de forragem média (kg de MS/ha/dia) e forragem acumulada total (kg de MS/ha/ano) medidas nas unidades monitoradas. Pastagem kg MS/ha/dia 1P 2V. 3O. 4I. Média Total Extensiva 17,4 19,4 1,5 8,5 11,8 4.337,4 Intensiva Sequeiro5 93,5 120,8 71,3 26,8 78,0 28.522 Intensiva Irrigada6 108,2 117,6 91,5 86,3 104,4 38.132 Legenda: Estações do ano: 1P = primavera; 2V = verão; 3O = outono; 4I = inverno. 5Ambiente com temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.670 mm de precipitação anual (1.261 a 2.033 mm entre mínima e máxima); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos. 6Ambiente com temperatura média anual de 22,5 oC (18,5 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.370 mm de precipitação anual (965 a 1.857 mm entre mínima e máxima); mais 414 a 797 mm de lâmina de irrigação; 474 kg/ha de N, 97 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 41 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos. Observa-se que as tecnologias de intensificação da produção da pastagem através da correção, adubação e irrigação do solo aumentaram as taxas de acúmulo de forma expressiva, principalmente no inverno (86.3 kg de MS/ha/dia), em comparação com a pastagem manejada intensivamente, mas sem irrigação, pastagem intensiva sequeiro (26,8 kg de MS/ha/dia), entretanto, não foi possível eliminar a estacionalidade de produção de forragem, ou seja, não é possível manter a taxa de acúmulo constante em todas as estações do ano, daí então a necessidade de mesmo neste sistema se fazer o planejamento alimentar para o rebanho. Uma das práticas para estabelecer as bases para o planejamento alimentar em sistemas pastoris é o cálculo da oferta de forragem dada pela produção da pastagem (kg de MS/ha) e a demanda por forragem para alimentar o rebanho em pasto (UA/ha x kg de MS/UA) através de metodologias de mensuração da forragem disponível. Tal prática ainda tem baixíssima adoção nas fazendas brasileiras, entretanto, os produtores que têm investido na tecnologia de irrigação da pastagem têm sido mais abertos à adoção daquela metodologia devido ao alto nível de investimentos, ao maior custo de produção da forragem e os custos com as altas taxas de lotação (compra de animais, suplementos, vacinas etc.). Assim eles estão conscientes que neste sistema é muito caro errar. Quais têm sido as alternativas para tamponar as deficiências de forragem em função da estacionalidade de produção da pastagem? Enquanto em sistemas de pastagens extensivas a alternativa mais tradicionalmente adotada pelos produtores é o diferimento da pastagem, em sistemas de pastagens intensivas não irrigadas (sistema de sequeiro) têm sido o confinamento dos animais no período da seca e para tal a maioria das propriedades produzem volumosos
Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 3

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. No dia 22 de setembro de 2025 teve início a estação de primavera. Dia 16 de setembro caiu a primeira chuva da estação 2025/2026 em Uberaba (MG), de onde estou escrevendo esse texto. Entretanto, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil ainda persistem. De fato, agora será o período mais crítico do ano: o de transição seca/chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevi os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. Nessa terceira parte continuarei descrevendo as bases para a continuidade da implantação e da condução de sistemas de pastagens irrigadas para a produção animal com base nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 26 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia. Existe alguma diferença da infraestrutura da pastagem em um sistema de pastagem irrigada? Estando a pastagem estabelecida, antes da preocupação com o manejo do pastoreio deve-se planejar e conduzir a implantação da infraestrutura, dimensionando as medidas dos recursos piquete, áreas de descanso, cochos para suplementação, fontes de água, sombreamento e corredores de acesso ao curral e aos piquetes. Este planejamento é ainda mais crítico em uma pastagem irrigada por causa das altas densidades de lotação, principalmente nas estações de primavera e verão. O número de animais por lote em pastagens irrigadas tem variado entre 150 e 2.100, dependendo da área de pastagens que está sendo irrigada. Existem diferenças do manejo do pastoreio entre uma pastagem irrigada e uma pastagem em sistema de sequeiro? Não. O parâmetro que deve orientar o manejo do pastoreio deve ser o mesmo adotado em pastagens em sistema de sequeiro, as alturas alvos do pasto para a entrada e a saída dos animais do piquete para cada espécie/cultivar forrageiro específico. A diferença é que em uma pastagem irrigada pela condição de prover à planta água o ano inteiro e pelas maiores doses de adubações, a taxa de expansão do pasto (crescimento em cm/dia) é significativamente maior, portanto, a frequência de pastoreio e a intensidade de pastejo devem ser maiores para evitar perdas na qualidade e na quantidade de forragem. Uma vez estabelecidas a pastagem e a sua infraestrutura, e adotados os procedimentos de manejo do pastoreio, é preciso gerir o crescimento e a produção de forragem, como também a sua utilização e a sua conversão em carne. Mas esse tema será objetivo do artigo da próxima semana – aguarde.
Produção Animal em Pastagens Irrigadas – Parte 2

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Hoje, dia 10 de setembro de 2025, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil se acentuam. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevo os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. É de extrema importância o esclarecimento a produtores e técnicos dos critérios para a escolha de uma espécie forrageira, critérios estes baseados cientificamente e validados tecnicamente em campo: (a) exigências climáticas; b) exigências em solo; c) comportamento frente a insetos, pragas e a doenças; d) aceitabilidade pelos animais; e) distúrbios metabólicos causados aos animais; f) formas de plantio; g) formas de uso; h) potencial de produção; i) qualidade de forragem. Mas de fato as espécies forrageiras que mais são cultivadas em pastagens irrigadas no Brasil são as dos gêneros Brachiaria sp: B. brizantha cultivares Marandu (capim-braquiarão) e Xaraés (ou MG5), B. decumbens; Cynodon sp: tifton 85, capim-vaquero; Panicum maximum, principalmente o cultivar Mombaça e Pennisetum purpureum – capim-elefante. Quando a propriedade se localiza em regiões de baixas, latitude e altitude as diferenças de estacionalidade de produção de forragem entre as espécies forrageiras são mínimas, por outro lado, em condições opostas o capim-tifton 85 tem apresentado a melhor distribuição da produção de forragem ao longo das estações do ano, comportamento fundamental em sistemas de pastagens irrigadas (Quadro 1). Quadro 1. Taxa de acúmulo (kg de MS/ha/dia) e acúmulo total de forragem (kg de MS/ha/ano) dos capins B. decumbens (Bd), B. ruziziensis (Br), Vaquero (Vaq.) e Tifton 85 (T85) em pastagens intensivas irrigadas entre os anos pastoris de 2011/2012 e 2012/2013. Planta forrageira Estação Bd Br Vaq T85 Média Primavera 128 120 88 150 (+ 17; 25 e 70%) 121 Verão 88 84 82 128 (+ 45; 52 e 56%) 95 Outono 85 89 77 105 (+ 23; 18 e 36%) 89 Inverno 71 99 63 116 (+ 63; 17 e 84%) 87 Média 93 98 78 125 (+ 34; 27 e 60%) 98 Total 33.884 35.709 28.424 45.463 Estas produtividades foram alcançadas em um ambiente a 800 m de altitude, temperatura média anual de 23 oC; 1.319 mm de precipitação anual (746 a 2.262 mm entre mínima e máxima); mais 700 a 800 mm de lâmina de irrigação; 816 kg/ha de nitrogênio (N), 192 kg/ha de P2O5, 515 kg/ha de K2O e 17 kg/ha de enxofre. Os valores entre parêntesis da quinta coluna (T85) representam as diferenças a mais de taxas de acúmulo de matéria seca (MS) do capim-tifton 85 comparada com as taxas de acúmulos das outras plantas forrageiras avaliadas nas diferentes estações do ano. Observa-se que além do capim-tifton 85 ter acumulado mais forragem na média e total, a distribuição da produção foi também mais equilibrada. Existe alguma diferença no estabelecimento de uma pastagem irrigada? Não, a não ser a possibilidade de se estabelecer a pastagem em qualquer estação do ano em função da irrigação do solo. Um programa de estabelecimento de uma pastagem deve ser dividido em etapas. Cada etapa tem uma época mais adequada para ser executada em uma dada região. Além disso, cada etapa deve ser seguida com procedimentos padrões para serem executados, para garantir o sucesso da execução ao executor do programa, independentemente se a pastagem será ou não irrigada. As etapas básicas para o estabelecimento da pastagem: a) escolha da área; b) medida e mapeamento da área; c) amostragem de solo para análise; d) estudo das condições ambientais da região – clima, solos, insetos pragas e doenças; e) escolha das espécies forrageiras; f) planejamento do programa de estabelecimento da pastagem; g) execução do programa: limpeza do terreno; correção e preparo do solo; aquisição de sementes e de mudas; métodos de semeadura ou de plantio por mudas; época de plantio e condições climáticas para o plantio; cobertura de sementes e de mudas; adubação de plantio; controle de plantas daninhas e isentos pragas, e a primeira colheita da pastagem, por pastejo ou por colheita mecânica. Na próxima semana continuarei a série de artigos sobre produção animal em pastagens irrigadas – aguarde.