Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 6

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite. Hoje, 22 de outubro de 2025, já se passaram 30 dias desde o início da primavera. No dia 16 de setembro, caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, cidade de onde escrevo este texto.Entretanto, as condições impostas pela seca ainda persistem na maioria das regiões pecuárias do Brasil. De fato, este é o período mais crítico do ano: a transição entre a seca e as chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens.Na Parte 01 desta série de textos sobre o tema, citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para adoção dessa tecnologia.Na Parte 02, descrevi os critérios para escolha das espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados, além de apresentar uma sequência de procedimentos para o plantio.Na Parte 03, abordei as bases para implantação e condução de sistemas de pastagens irrigadas voltados à produção animal, com base nas principais dúvidas observadas ao longo dos meus 26 anos de experiência com essa tecnologia.Na Parte 04, expliquei por que é fundamental gerir a produção de forragem e elaborar um planejamento alimentar, mesmo em pastagens irrigadas, apresentando também as alternativas para compensar deficiências de forragem conforme a estacionalidade da produção.Já na Parte 05, descrevi o manejo de correção e adubação do solo, além dos procedimentos de controle de insetos-praga e plantas daninhas em sistemas de pastagens irrigadas. O objetivo desta sexta parte é apresentar e descrever os ganhos diferenciais proporcionados pela adoção da tecnologia de irrigação em solos de pastagens. Como a irrigação da pastagem influencia o valor nutritivo da forragem?O valor nutritivo é determinado por variáveis como composição química e digestibilidade da forragem, sendo influenciado principalmente pelos fatores ambientais — latitude, altitude, luminosidade, temperatura e regime de chuvas —, mas também, e sobretudo, pelo manejo da pastagem, que envolve o controle de plantas daninhas e insetos-praga, o manejo do pastoreio e os níveis de correção e adubação do solo. A irrigação permite a manutenção praticamente constante do valor nutritivo da forragem ao longo do ano, uma vez que garante níveis adequados de umidade no solo, favorecendo a absorção contínua de nutrientes pela planta — condição inviável em pastagens intensivas não irrigadas durante a seca. Além disso, como a irrigação possibilita maiores taxas de acúmulo de forragem, os níveis de correção e adubação tendem a ser significativamente mais altos em sistemas irrigados, o que também melhora a composição química e o valor nutricional da forragem. Composição química de forragem de espécies forrageiras manejadas em sistemas de pastagens de sequeiro e irrigadas.   Determinação Forrageira/Sistema PB NDTc FDN FDA P Mombaça sequeiro 11,5 57,9 69,4 34,1 0,20 Tanzânia sequeiro 10,2 57,6 68,5 33,8 0,19 Tifton 85 sequeiro 11,4 60,6 74,2 34,7 0,18 Média1 11,0 58,7 70,7 34,2 0,19 B. brizantha irrigado 17,2 60,0 62,1 32,3 0,23 Tifton 85 irrigado 16,3 64,7 76,6 36,7 0,32 Média2 16,7 62,3 69,3 34,5 0,27 B. decumbens irrigado 18.1 67.7 70.1 28.5 0.32 B. ruziziensis irrigado 18.4 67.9 49.2 23.6 0.45 Vaquero irrigado 17.6 68.4 70.5 27.0 0.25 Tifton 85 irrigado 19.7 67.5 74.7 31.5 0.31 Média3 18.4 67.8 66.1 27.6 0.33 Legenda: PB: proteína bruta; NDTc: nutrientes digestíveis calculados; FDN fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; P: fósforo; 1Temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC); 1.670 mm de precipitação (1.261 a 2.033 mm); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos; 2Temperatura média anual de 22,5 oC (18,5 a 25 oC); 1.370 mm de precipitação anual (965 a 1.857 mm); mais 414 a 797 mm de lâmina de irrigação; 474 kg/ha de N, 97 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 41 kg/ha de enxofre; 3Temperatura média anual de 23 oC; 1.319 mm de precipitação anual (746 a 2.262 mm); mais 700 a 800 mm de lâmina de irrigação; 816 kg/ha de N, 192 kg/ha de P2O5, 515 kg/ha de K2O e 17 kg/ha de enxofre.  Na sétima e ultima parte dessa sequência de artigos sobre pastagens irrigadas citarei e descreverei indicadores de produtividades por animal e por área nesse sistema de produção – aguarde.

Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 5

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite. Hoje, 16 de outubro de 2025, já se passaram 24 dias desde o início da primavera. No dia 16 de setembro, caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, cidade de onde escrevo este texto.Entretanto, as condições impostas pela seca na maioria das regiões pecuárias do Brasil ainda persistem. Na verdade, agora se inicia o período mais crítico do ano — a transição entre a seca e as chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens.Na parte 01 desta sequência de textos, abordei os objetivos da irrigação de pastagens e como recomendo o início de um projeto para adoção dessa tecnologia.Na parte 02, descrevi os critérios para escolha das espécies forrageiras mais adequadas aos sistemas irrigados e apresentei uma sequência de procedimentos para o plantio da pastagem.Na parte 03, tratei das etapas de implantação e condução de sistemas irrigados voltados à produção animal, com base nas principais dúvidas que venho recebendo nos últimos 26 anos de trabalho com essa tecnologia.Por fim, na parte 04, expliquei a importância do planejamento alimentar mesmo em pastagens irrigadas e as alternativas para compensar deficiências de forragem em função da estacionalidade produtiva. Como deve ser feita a correção e adubação de solos de uma pastagem irrigada?As etapas de um programa de manejo da fertilidade do solo em uma pastagem irrigada devem seguir os mesmos princípios adotados em sistemas de sequeiro.As diferenças estão na possibilidade de adubar o ano inteiro, nas doses mais elevadas de fertilizantes — devido ao maior potencial produtivo proporcionado pela irrigação — e na maior eficiência de uso dos nutrientes, já que a irrigação permite controle da umidade do solo, potencializando as respostas, especialmente às adubações nitrogenadas. A irrigação tem proporcionado incrementos nas respostas à aplicação de ureia (N) que variam de 20% para a dose de 200 kg/ha a 52% para a dose de 600 kg/ha. Como é a infestação de plantas daninhas em pastagens irrigadas?Quando todas as recomendações técnicas abordadas nos artigos anteriores são seguidas, a planta forrageira encontra condições extremamente favoráveis para competir com as plantas daninhas por luz, dióxido de carbono, espaço, água e nutrientes. Além disso, considerando os altos investimentos e custos dos sistemas irrigados, o custo relativo com o controle de plantas daninhas é muito baixo, mas ainda assim o produtor não deve negligenciar essa prática. Como é a infestação de insetos-praga em pastagens irrigadas?Essas áreas têm sido atacadas tanto por insetos-praga específicos, como as cigarrinhas-das-pastagens, quanto por pragas generalistas, como lagartas cortadeiras, larvas de besouros (corós) e cigarrinhas-dos-canaviais. Ainda assim, em função do alto nível tecnológico e dos custos já incorporados ao sistema, as despesas com controle de pragas são relativamente baixas, desde que o produtor mantenha o manejo preventivo em dia. Além disso, a irrigação possibilita o uso da insetigação — aplicação de inseticidas via sistema de irrigação —, o que facilita e reduz o custo do controle. O ambiente irrigado também favorece o uso de inseticidas biológicos, especialmente à base de fungos, devido à manutenção da umidade no solo. Vamos parando por aqui.Na próxima semana, abordarei os resultados de produção animal em pastagens irrigadas — aguarde.

Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 4

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Hoje, dia 07 de outubro de 2025, já são 15 dias do início da estação de primavera, dia 16 de setembro último caiu a primeira chuva da estação chuvosa 2025/2026 em Uberaba, de onde estou escrevendo esse texto. Entretanto, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil ainda persistem, de fato agora será o período mais crítico do ano, o de transição seca/chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevi os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. E na parte 03  descrevi as bases para a continuidade da implantação e da condução de sistemas de pastagens irrigadas para a produção animal com base nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 26 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia. Uma vez estabelecidas a pastagem e a sua infraestrutura, e adotados os procedimentos de manejo do pastoreio, é preciso gerir o crescimento e a produção de forragem, como também a sua utilização e a sua conversão em carne. Por que gerir a produção de forragem produzida na pastagem e elaborar um planejamento alimentar mesmo em uma pastagem irrigada? As limitações para o crescimento de plantas forrageiras no mundo se distribuem assim: em 36% do globo terrestre o crescimento é limitado pela temperatura; em 31% é limitado por déficit hídrico; em 24% é limitado por ambos os elementos climáticos e em apenas 9% da terra não há limitações de temperatura e de déficit hídrico. Assim, mesmo em uma pastagem irrigada, devido as reduções no fotoperíodo, na radiação solar e na temperatura ambiente, principalmente nas estações de outono inverno, a pastagem apresentará uma estacionalidade de produção de forragem, condição que leva à necessidade de se elaborar um planejamento alimentar. Os dados apresentados na Tabela 1 foram coletados pela técnica de medição direta (técnica do quadrado) e as medições tiveram início em meados da década de 90, principalmente nos estados de Minas Gerais (MG), São Paulo (SP) e Mato Grosso do Sul (MS) de onde se estabeleceu os potenciais para as pastagens extensivas dos capins Braquiarão (Brachiaria brizantha cv Marandu) e Braquiária decumbens (Brachiaria decumbens); nos estados de MG e SP, para pastagens intensivas sem irrigação dos capins Braquiarão, Mombaça, Tanzânia (Pancium maximum cv Mombaça e Tanzânia) e Tifton 85 (Cynodon sp); e nos estados de MG, Goiás (GO), MS e Bahia (BA), para pastagens intensivas irrigadas dos capins Braquiarão, Decumbens, Mombaça, Ruziziensis (Brachiaria ruziziensis), Tanzânia, Tifton 85, Vaquero (Cynodon dactylon cv Vaquero) e Xaraés ou MG-5 (Brachiaria brizantha cv Xaraés ou MG5). As medições foram conduzidas em fazendas de pesquisas e fazendas comerciais. Tabela 1 – Taxa de acúmulo de forragem média (kg de MS/ha/dia) e forragem acumulada total (kg de MS/ha/ano) medidas nas unidades monitoradas.   Pastagem kg MS/ha/dia 1P 2V. 3O. 4I. Média Total Extensiva 17,4 19,4 1,5 8,5 11,8 4.337,4 Intensiva Sequeiro5 93,5 120,8 71,3 26,8 78,0 28.522 Intensiva Irrigada6 108,2 117,6 91,5 86,3 104,4 38.132 Legenda: Estações do ano: 1P = primavera; 2V = verão; 3O = outono; 4I = inverno. 5Ambiente com temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.670 mm de precipitação anual (1.261 a 2.033 mm entre mínima e máxima); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos.  6Ambiente com temperatura média anual de 22,5 oC (18,5 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.370 mm de precipitação anual (965 a 1.857 mm entre mínima e máxima); mais 414 a 797 mm de lâmina de irrigação; 474 kg/ha de N, 97 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 41 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos.  Observa-se que as tecnologias de intensificação da produção da pastagem através da correção, adubação e irrigação do solo aumentaram as taxas de acúmulo de forma expressiva, principalmente no inverno (86.3 kg de MS/ha/dia), em comparação com a pastagem manejada intensivamente, mas sem irrigação, pastagem intensiva sequeiro (26,8 kg de MS/ha/dia), entretanto, não foi possível eliminar a estacionalidade de produção de forragem, ou seja, não é possível manter a taxa de acúmulo constante em todas as estações do ano, daí então a necessidade de mesmo neste sistema se fazer o planejamento alimentar para o rebanho. Uma das práticas para estabelecer as bases para o planejamento alimentar em sistemas pastoris é o cálculo da oferta de forragem dada pela produção da pastagem (kg de MS/ha) e a demanda por forragem para alimentar o rebanho em pasto (UA/ha x kg de MS/UA) através de metodologias de mensuração da forragem disponível. Tal prática ainda tem baixíssima adoção nas fazendas brasileiras, entretanto, os produtores que têm investido na tecnologia de irrigação da pastagem têm sido mais abertos à adoção daquela metodologia devido ao alto nível de investimentos, ao maior custo de produção da forragem e os custos com as altas taxas de lotação (compra de animais, suplementos, vacinas etc.). Assim eles estão conscientes que neste sistema é muito caro errar. Quais têm sido as alternativas para tamponar as deficiências de forragem em função da estacionalidade de produção da pastagem? Enquanto em sistemas de pastagens extensivas a alternativa mais tradicionalmente adotada pelos produtores é o diferimento da pastagem, em sistemas de pastagens intensivas não irrigadas (sistema de sequeiro) têm sido o confinamento dos animais no período da seca e para tal a maioria das propriedades produzem volumosos

Produção de Carne em Pastagens Irrigadas – Parte 3

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. No dia 22 de setembro de 2025 teve início a estação de primavera. Dia 16 de setembro caiu a primeira chuva da estação 2025/2026 em Uberaba (MG), de onde estou escrevendo esse texto. Entretanto, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil ainda persistem. De fato, agora será o período mais crítico do ano: o de transição seca/chuvas. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevi os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. Nessa terceira parte continuarei descrevendo as bases para a continuidade da implantação e da condução de sistemas de pastagens irrigadas para a produção animal com base nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 26 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia. Existe alguma diferença da infraestrutura da pastagem em um sistema de pastagem irrigada? Estando a pastagem estabelecida, antes da preocupação com o manejo do pastoreio deve-se planejar e conduzir a implantação da infraestrutura, dimensionando as medidas dos recursos piquete, áreas de descanso, cochos para suplementação, fontes de água, sombreamento e corredores de acesso ao curral e aos piquetes. Este planejamento é ainda mais crítico em uma pastagem irrigada por causa das altas densidades de lotação, principalmente nas estações de primavera e verão. O número de animais por lote em pastagens irrigadas tem variado entre 150 e 2.100, dependendo da área de pastagens que está sendo irrigada. Existem diferenças do manejo do pastoreio entre uma pastagem irrigada e uma pastagem em sistema de sequeiro? Não. O parâmetro que deve orientar o manejo do pastoreio deve ser o mesmo adotado em pastagens em sistema de sequeiro, as alturas alvos do pasto para a entrada e a saída dos animais do piquete para cada espécie/cultivar forrageiro específico. A diferença é que em uma pastagem irrigada pela condição de prover à planta água o ano inteiro e pelas maiores doses de adubações, a taxa de expansão do pasto (crescimento em cm/dia) é significativamente maior, portanto, a frequência de pastoreio e a intensidade de pastejo devem ser maiores para evitar perdas na qualidade e na quantidade de forragem. Uma vez estabelecidas a pastagem e a sua infraestrutura, e adotados os procedimentos de manejo do pastoreio, é preciso gerir o crescimento e a produção de forragem, como também a sua utilização e a sua conversão em carne. Mas esse tema será objetivo do artigo da próxima semana – aguarde.

Produção Animal em Pastagens Irrigadas – Parte 2

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Hoje, dia 10 de setembro de 2025, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil se acentuam. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Na parte 01 dessa sequência de textos sobre o tema em questão citei os objetivos da irrigação de solos de pastagens e como recomendo o início de um projeto para a adoção dessa tecnologia. Dando sequência, na parte 02 descrevo os critérios para a escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento da pastagem em sistemas irrigados e uma sequência de procedimentos para o plantio de uma pastagem. É de extrema importância o esclarecimento a produtores e técnicos dos critérios para a escolha de uma espécie forrageira, critérios estes baseados cientificamente e validados tecnicamente em campo: (a) exigências climáticas; b) exigências em solo; c) comportamento frente a insetos, pragas e a doenças; d) aceitabilidade pelos animais; e) distúrbios metabólicos causados aos animais; f) formas de plantio; g) formas de uso; h) potencial de produção; i) qualidade de forragem. Mas de fato as espécies forrageiras que mais são cultivadas em pastagens irrigadas no Brasil são as dos gêneros Brachiaria sp: B. brizantha cultivares Marandu (capim-braquiarão) e Xaraés (ou MG5), B. decumbens; Cynodon sp: tifton 85, capim-vaquero; Panicum maximum, principalmente o cultivar Mombaça e Pennisetum purpureum – capim-elefante. Quando a propriedade se localiza em regiões de baixas, latitude e altitude as diferenças de estacionalidade de produção de forragem entre as espécies forrageiras são mínimas, por outro lado, em condições opostas o capim-tifton 85 tem apresentado a melhor distribuição da produção de forragem ao longo das estações do ano, comportamento fundamental em sistemas de pastagens irrigadas (Quadro 1). Quadro 1. Taxa de acúmulo (kg de MS/ha/dia) e acúmulo total de forragem (kg de MS/ha/ano) dos capins B. decumbens (Bd), B. ruziziensis (Br), Vaquero (Vaq.) e Tifton 85 (T85) em pastagens intensivas irrigadas entre os anos pastoris de 2011/2012 e 2012/2013. Planta forrageira Estação Bd Br Vaq T85 Média Primavera 128 120 88 150 (+ 17; 25 e 70%) 121 Verão 88 84 82 128 (+ 45; 52 e 56%) 95 Outono 85 89 77 105 (+ 23; 18 e 36%) 89 Inverno 71 99 63 116 (+ 63; 17 e 84%) 87 Média 93 98 78 125 (+ 34; 27 e 60%) 98 Total 33.884 35.709 28.424 45.463 Estas produtividades foram alcançadas em um ambiente a 800 m de altitude, temperatura média anual de 23 oC; 1.319 mm de precipitação anual (746 a 2.262 mm entre mínima e máxima); mais 700 a 800 mm de lâmina de irrigação; 816 kg/ha de nitrogênio (N), 192 kg/ha de P2O5, 515 kg/ha de K2O e 17 kg/ha de enxofre. Os valores entre parêntesis da quinta coluna (T85) representam as diferenças a mais de taxas de acúmulo de matéria seca (MS) do capim-tifton 85 comparada com as taxas de acúmulos das outras plantas forrageiras avaliadas nas diferentes estações do ano. Observa-se que além do capim-tifton 85 ter acumulado mais forragem na média e total, a distribuição da produção foi também mais equilibrada. Existe alguma diferença no estabelecimento de uma pastagem irrigada? Não, a não ser a possibilidade de se estabelecer a pastagem em qualquer estação do ano em função da irrigação do solo. Um programa de estabelecimento de uma pastagem deve ser dividido em etapas. Cada etapa tem uma época mais adequada para ser executada em uma dada região. Além disso, cada etapa deve ser seguida com procedimentos padrões para serem executados, para garantir o sucesso da execução ao executor do programa, independentemente se a pastagem será ou não irrigada. As etapas básicas para o estabelecimento da pastagem: a) escolha da área; b) medida e mapeamento da área; c) amostragem de solo para análise; d) estudo das condições ambientais da região – clima, solos, insetos pragas e doenças; e) escolha das espécies forrageiras; f) planejamento do programa de estabelecimento da pastagem; g) execução do programa: limpeza do terreno; correção e preparo do solo; aquisição de sementes e de mudas; métodos de semeadura ou de plantio por mudas; época de plantio e condições climáticas para o plantio; cobertura de sementes e de mudas; adubação de plantio; controle de plantas daninhas e isentos pragas, e a primeira colheita da pastagem, por pastejo ou por colheita mecânica. Na próxima semana continuarei a série de artigos sobre produção animal em pastagens irrigadas – aguarde.

Produção Animal em Pastagens Irrigadas – Parte 1

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Hoje, dia 1º de setembro de 2025, as condições impostas pela seca na maioria das regiões de pecuária do Brasil se acentuam. Uma das estratégias para minimizar ou até superar essas condições é a irrigação do solo de pastagens. Nos últimos 122 anos os objetivos da irrigação da pastagem têm sido solucionar o problema da estacionalidade de produção de forragem; reduzir custos de produção e tempo de trabalho para alimentar o rebanho; obter maior retorno líquido na produção animal quando comparado aos sistemas que precisam usar forragens conservadas (silagens, pré-secados, fenos) e grãos; usar menor área para a produção animal (intensificação do uso da terra); usar águas residuárias e dejetos líquidos de animais. As bases técnicas e econômicas para a produção de animal em pastagem irrigada serão aqui revisadas com base nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 29 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia. A primeira e a mais importante medida que deve ser tomada por parte do pecuarista é a contratação de uma consultoria especializada em pastagens irrigadas. Esta consultoria deverá: conhecer as coordenadas geográficas da propriedade (latitude e longitude) e a altitude; estudar as condições climáticas da região onde a propriedade se localiza (índice pluviométrico, evapotranspiração real e potencial, balanço hídrico, temperaturas média, máxima e mínima, incidência de geadas etc.), estudar os solos da região onde a propriedade se localiza (a classe dos solos, seu relevo, sua profundidade e drenagem, sua fertilidade, capacidade de retenção de água etc.); deverá medir as vazões dos cursos de água da propriedade (córregos, rios, lagos, represas, etc.) no final da seca; ver nos órgãos estaduais ou federais de gestão de recursos hídricos se há outorga para uso da água naqueles cursos de água existentes na propriedade; saber se a energia é monofásica ou se é trifásica e os programas de tarifa verde; definir o sistema de irrigação; conhecer o mercado regional (preços de terras, alternativas de uso da terra, preços de venda dos produtos produzidos pelo pecuarista, linhas de financiamento com período de carência e prazo para pagamento, taxas de juros, etc.); conhecer o perfil da equipe da propriedade (o produtor e seus colaboradores). Enfim, com todas estas informações e estes dados, a consultoria irá elaborar um diagnóstico e um projeto com viabilidades técnica e econômica da irrigação de pastagens naquela propriedade, para apresentar para o produtor. Pode parecer complexo, e é mesmo, entretanto, quanto mais tempo for dedicado à fase do planejamento, mais eficaz será a execução do projeto e a probabilidade de cometer erros e de perder dinheiro será significativamente minimizada. Existem vários sistemas de irrigação, tais como os pivôs central e linear, a aspersão convencional com tubos superficiais, a aspersão em malha, o canhão autopropelido, a irrigação por inundação, e mais recentemente, a irrigação subterrânea. Mas os sistemas mais adotados com sucesso em pastagens no Brasil têm sido o pivô central (geralmente para áreas acima de 50 ha) e a aspersão em malha (geralmente para áreas menores que 50 ha). O valor do investimento também varia com uma série de fatores, tais como: o sistema de irrigação em si, o ponto de captação de água, a distância para levar a água até o ponto onde a irrigação será feita, se vai precisar instalar um sistema de energia trifásica ou não etc. Se todos os fatores aqui discutidos forem favoráveis e o programa for bem executado, em sistemas de produção animal em pasto é possível o produtor já ter amortizado o investimento a partir do quarto ao sétimo ano após o início do funcionamento do sistema de irrigação. Na próxima semana continuarei a série de artigos sobre produção animal em pastagens irrigadas – aguarde.

Parâmetros para a Escolha de Espécies Forrageiras para o Estabelecimento de Pastagens – Parte 04

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Continuando a série de artigos sobre o tema que intitula esse texto, hoje, dia 15 de agosto de 2025, já no segundo semestre do ano, dois a três meses para o início do período de chuvas na maior parte do território brasileiro, onde as chuvas caem nas estações de primavera (outubro a dezembro) e verão (janeiro a março). Nas primeira e segunda partes dessa sequência de artigos citei e descrevi os parâmetros “exigências climáticas e em solos”, “comportamento frente a insetos pragas e doenças”, “aceitabilidade pelos animais”, “distúrbios metabólicos causados aos animais”, “formas de plantio”, “formas de uso”. E na terceira parte citei e expliquei fundamentos que suportam a conclusão de que as características “quantidade e qualidade de forragem” são, em grande medida, mais condicionadas pelo meio (leia, manejo da pastagem) do que pelo genótipo (leia, genética da planta). Mas não existem mesmo diferenças entre forrageiras para aqueles parâmetros? Os novos cultivares não são superiores aos tradicionais? Há sim, mas são pequenas e existem mais diferenças por causa das diferenças de ambientes e pela interação genótipo/ambiente do que pelas diferenças entre genótipos. Os dados das tabelas 1, 2 e 3 darão suporte à estas conclusões. Por 22 anos (entre 1998 e 2020) integrantes do Grupo de Estudos e Trabalhos em Pasto (GET) compararam os cultivares de Mombaça e Tanzânia e Tifton 85 na fazenda escola das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), em pastagens intensificadas. Na Tabela 1 tem os valores médios para indicadores que refletem os parâmetros qualidade (dada pelo GMD) e produtividade de forragem (dada em t e kg de MS/ha e TL) de quatro anos de avaliações. Tabela 1- Indicadores de qualidade e de produtividade alcançados em pastagens intensificadas entre os anos de 1998/99 e 2002/2003 manejadas em pastoreio de lotação rotativa.     Forrageira MF PRÉp (t MS/ha)1 MF PÓSp (t MS/ha)2 TAF (kg de MS/ha/dia)3   TL (UA/ha/ano)4   GMD (kg/dia)5 Tanzânia 5,1 2,6 86 5,3 0,63 Mombaça 5,0 2,2 81 5,0 0,61 Tifton 85 5,7 2,6 85 5,9 0,55 1MFPREp (t MS/ha): massa de forragem no pré-pastejo em tonelada de matéria seca por hectare; 2MFPÓSp (t MS/ha): massa de forragem no pós-pastejo; 3TAF (kg MS/ha/dia): taxa de acúmulo de forragem em quilo de matéria seca por hectare por dia; 4TL (UA/ha): taxa de lotação em unidade animal por hectare; 5GMD (kg/dia): ganho médio diario apenas com suplementos minerais. Estas produtividades foram alcançadas em um ambiente com temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.670 mm de precipitação anual (1.261 a 2.033 mm entre mínima e máxima); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos.  RESENDE; AGUIAR, 2004. Ainda o GET comparou a B. hibrida cultivar Convert HD364 (capim Mulato 2) com seus progenitores, entre 2012 e 2016. Na Tabela 2 tem os valores médios para indicadores que refletem os parâmetros qualidade (dada pelo GMD) e produtividade de forragem (dada pela TL) das forrageiras avaliadas. Tabela 2 – Indicadores de produtividade1 alcançados em pastagens intensificadas de B. hibrida Convert cv HD364 (BH) e seus progenitores, B. decumbens (BD), B. brizantha cv Marandu (BB) e B. ruziziensis (BR) em um período de 450 dias de avaliação (junho de 2013 a março de 2014 e de outubro de 2014 a março de 2015) manejadas em pastoreio de lotação alternada. Forrageira Indicador Unidade BH HD 364 BD BB BR Média Taxa de lotação UA/ha2 4.46 4.02 3.83 3.60 3.98 Ganho médio diário kg/cab/dia 0.76 0.70 0.66 0.74 0.72 Produtividade da terra @/ha 62 55 50 54 55 4EUN kg PC/kg N 2.93 2.44 2.44 2.60 2.60 1Produtividades alcançadas com 2.150 mm de chuvas e 5,0 t/ha de calcário + 1,26 t/ha de gesso + 209 kg/ha de P2O5 + 130 kg/ha de K2O + 318 kg/ha de N + 123 kg/ha de enxofre (do gesso) durante o período experimental. 2Unidade Animal; 3Peso Corporal; 4Eficiência de Uso de Nitrogênio (112 kg de N via adubação e assumindo + 9 kg N-atmosférico + 7,5 kg N-mineral do solo + 142 kg N-matéria orgânica do solo). Os animais foram suplementados apenas com suplementos minerais. Fonte: SILVA; AGUIAR, 2014; COSTA; AGUIAR, 2015; COELHO; AGUIAR, 2016. Avaliando os parâmetros GMD e TL nos períodos de chuva e de seca, e a produtividade por hectare, de seis cultivares de Brachiaria sp e seis de P. maximum, lançados pela EMBRAPA, desde o lançamento do cultivar de Brachiaria, o Braquiarão, em 1984, até o lançamento da B. hibrida cultivar Ipyporã, em 2017, e do cultivar de P. maximum, o Tanzânia, lançado em 1990, até o lançamento do cultivar Quênia, em 2017 não se encontra diferenças significativas que justifiquem a escolha de uma forrageira para o plantio da pastagem com base naqueles parâmetros, e muito menos substituir uma forrageira já estabelecida por outra. Ainda há um conceito arraigado de que forrageiras da espécie P. maximum têm melhor qualidade e maior produtividade de forragem que forrageiras de outros gêneros ou espécies e, portanto, são as eleitas para sistemas intensivos, até mesmo justificando a substituição de um cultivar de uma espécie qualquer por um cultivar de P. maximum. Na Tabela 3 tem os valores médios para indicadores que refletem os parâmetros qualidade (pelo GMD) e produtividade de forragem (TL) de seis cultivares de Brachiaria sp e seis de P. maximum lançados pela EMBRAPA. Tabela 3 – Ganho médio diário (GMD), taxa de lotação (TL) e produtividade por hectare em peso corporal (kg de PC) e entre parêntesis em @/ha de cultivares dos gêneros Brachiaria sp e Panicum sp. GMD (kg/dia) TL (cabeças/ha) PC Forrageira Chuvas Seca Chuvas Seca kg ha/ano Fonte Brachiaria sp 0,59 0,30 4.2 1.7 618 (20,6@) EMBRAPA Panicum sp 0,61 0,32 3.9 2.2 741 (24,7@) Média 0,60

Parâmetros para a Escolha de Espécies Forrageiras para o Estabelecimento de Pastagens – Parte 03

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Continuando a série de artigos sobre o tema que intitula esse texto, hoje, dia 08 de agosto de 2025, já no segundo semestre do ano, dois a três meses para o início do período de chuvas na maior parte do território brasileiro, onde as chuvas caem nas estações de primavera (outubro a dezembro) e verão (janeiro a março).  Nas duas edições anteriores citei e descrevi os parâmetros “exigências climáticas e em solos”,“comportamento frente a insetos pragas e doenças”, “aceitabilidade pelos animais”, “distúrbios metabólicos causados aos animais”, “formas de plantio”, “formas de uso”. Mas essa lista não está incompleta? E os parâmetros “potencial de produção de forragem” e “qualidade de forragem”? Não são importantes? Sim, são fundamentais e porque: opotencial estabelece a capacidade de suporte e consequentemente a taxa de lotação da pastagem, enquanto a qualidade estabelece o nível de desempenho individual, e portanto, ambos parâmetros determinam a produtividade da pastagem (@ ou kg ou litros/ha/ano). Então por que não fazem parte dessa sua lista? Respondendo: “potencial de produção de forragem” e “qualidade de forragem” são parâmetros quase que totalmente definidos pelo ambiente (leia aqui, “manejo da pastagem”) e não pelo genótipo (herança genética), ou seja, as diferenças de potencial de produção e de qualidade de forragem entre e dentre espécies/cultivares forrageiros são pouco significativos desde que estejam adaptadas as condições de clima e solo da região e sob condições de correto manejo da pastagem.  Como eu sei que para a maioria das pessoas envolvidas na atividade é difícil aceitar que não há diferenças significativas de potencial de produção e de qualidade de forragem, o objetivo agora nessa sequência de textos será aprofundar nesses temas. Sempre foi dada ênfase àqueles parâmetros por parte de pecuaristas e técnicos porquê de fato a qualidade da forragem irá determinar o desempenho individual (kg de ganho por cabeça por dia, produção de leite por cabeça por dia, produção de lã por cabeça por dia), enquanto a produtividade de forragem e, consequentemente a capacidade de suporte (CS) da pastagem irão determinar a taxa de lotação (TL). Assim a associação de maior desempenho individual com maiores TL refletirá a produtividade da pastagem.  As empresas que produzem e comercializam sementes e mudas de forrageiras, conhecendo como o pecuarista e muitos técnicos pensam, dão ênfase aqueles parâmetros em seus materiais de propaganda, até mesmo pesquisadores de empresas públicas de pesquisas os exaltam no lançamento de novos cultivares.  Acredita-se que aqueles parâmetros sejam determinados pelo Genótipo que é “a soma de todos os genes de um indivíduo – o seu potencial ou mérito genético, da qual seus descendentes receberão uma amostra aleatória.” Qualquer característica manifestada é denominada em melhoramento genético por Fenótipo, que é “a aparência ou a capacidade produtiva de um indivíduo. É a expressão visível ou mensurável das várias características que constituem um indivíduo.” Uma característica, pode ser classificada como qualitativa, por exemplo, as características botânicas, ou como quantitativas, por exemplo, as características produtivas da forrageira, estas últimas as que nos interessam neste artigo.  Independente da característica em questão ela é a expressão da herança genética transmitida pelos antepassados do indivíduo (o Genótipo) em um determinado ambiente, e da interação genótipo específico/ambiente especifico. O peso do Genótipo na expressão do Fenótipo tem sido quantificado pelo parâmetro Herdabilidade da característica, que é “um termo usado para descrever a força da herança na determinação das diferenças entre indivíduos em uma característica determinada”. A Herdabilidade indica o grau em que o Fenótipo é um indicador de Genótipo e é classificada em Baixa (abaixo de 0,25 ou 25%), Média (entre 0,25 e 0,5 ou 25 a 50%) e Alta (acima de 0,5 ou de 50%). Pois bem, qual é a Herdabilidade para as características que determinam qualidade e produtividade de forragem? É baixa! Ou seja, as diferenças de qualidade e produtividade de forragem entre diferentes espécies forrageiras e para uma mesma espécie são mais devidas ao meio ambiente (leia aqui, manejo) do que ao Genótipo.  Mas não existem mesmo diferenças entre forrageiras para aqueles parâmetros? Os novos cultivares não são superiores aos tradicionais?Aguarde o artigo que escreverei na próxima semana.  

Parâmetros para a Escolha de Espécies Forrageiras para o Estabelecimento de Pastagens – Parte 02

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Continuando a série de artigos sobre o tema que intitula esse texto, hoje, dia 31 de julho de 2025, já no segundo semestre do ano, quatro a cinco meses para o início do período de chuvas na maior parte do território brasileiro, onde as chuvas caem nas estações de primavera (outubro a dezembro) e verão (janeiro a março). Volto a perguntar como fiz na parte 01 dessa sequência de textos – você pecuarista vai estabelecer novas pastagens na sua fazenda? Se sim, já escolheu as espécies forrageiras que serão plantadas? Já deveria, mas se ainda não, acredito que este texto será do seu interesse. Na edição anterior citei e descrevi os parâmetros “exigências climáticas e em solos” e “comportamento frente a insetos, pragas e doenças”. Em sequência citarei e descreverei os seguintes parâmetros. 4. Aceitabilidade pelos animais: descartar aquelas forrageiras que não são bem aceitas pela espécie animal que se pretende explorar, tais como algumas forrageiras do gênero Brachiaria sp para o plantio de pastagens para equinos. Para ruminantes não há diferenças significativas em aceitabilidade para diferentes espécies forrageiras, desde que estas estejam solteiras em piquetes separados, ou seja, o animal só vai exercer a preferência por uma determinada espécie se no piquete houver misturas de forrageiras, pois do contrário, ele consumirá forragem e apresentará desempenho sem diferenças significativas. Em tempo, o termo palatabilidade não se aplica aqui porque o pesquisador não tem como medir este parâmetro de forma quantitativa e avaliar estatisticamente, enquanto a aceitabilidade pode ser medida e comparada através de protocolo de pesquisa já padronizado. 5. Distúrbios metabólicos causados aos animais: descartar aquelas forrageiras que causam distúrbios em uma determinada espécie animal ou em uma categoria dentro da espécie. Como exemplo, as distrofias ósseas em equinos causadas por excesso de oxalato em algumas forrageiras, a fotossensibilização em bezerros, mais comum em pastagens de Brachiaria sp com excesso de sua palhada, a intoxicação por nitrato em pastagem de capim Tanner-Grass (Braquiária-do-brejo).   6. Formas de plantio: toda forrageira pode ser implantada através de mudas, mas nem todas podem ser implantadas através de sementes. Esta segunda forma de plantio praticamente não tem restrições, possibilitando o plantio em pequenas e em grandes áreas, pelos métodos, manual, ou por tração animal, ou tratorizado ou aéreo. O investimento para o plantio da pastagem pode ser duas a três vezes mais baixo quando o plantio é feito através de sementes comparado com o plantio por mudas, quase sempre envolvendo serviço manual. Assim o plantio de uma forrageira que só se reproduz por meio de mudas deve ser a opção apenas quando aquela espécie/cultivar for a mais adaptada às condições de clima e solo ou para fins específicos, tal como a produção de feno com forrageiras do gênero Cynodon sp (gramas Bermudas, gramas Estrelas, Tiftons). 7. Formas de uso: há que definir as finalidades de exploração da área em questão, ou seja – será exclusivamente para pastejo ou apenas para fenação ou ensilagem ou pré-secagem, ou formas destes usos combinadas em uma mesma área. Uma vez definida a forma de uso o técnico que assiste ao produtor irá definir o manejo da área: em caso de exploração sob pastejo definirá o método de pastoreio, as alturas alvos de manejo do pastoreio, a frequência de pastejo; no caso de áreas para corte definirá a altura e a frequência de cortes etc. Observa-se deste resumo que os parâmetros são muitos, que a análise de cada um não é tão simples assim, exigindo conhecimentos profundos de fatores dinâmicos e complexos, tais como o clima, o solo, insetos pragas, doenças, o manejo, ensejando a necessidade do produtor, ser orientado por um especialista. Na terceira parte dessa sequência de textos descreverei outros parâmetros para a escolha de espécies forrageiras – aguarde, será na próxima semana.

Parâmetros para a Escolha de Espécies Forrageiras para o Estabelecimento de Pastagens – Parte 01

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Dia 14 de julho de 2025, já no segundo semestre do ano, quatro a cinco meses para o início do período de chuvas na maior parte do território brasileiro, onde as chuvas caem nas estações de primavera (outubro a dezembro) verão (janeiro a março). Você pecuarista vai estabelecer novas pastagens na sua fazenda? Se sim, já escolheu as espécies forrageiras que serão plantadas? Já deveria, mas se ainda não acredito que esse texto será do seu interesse. Quanto maior for o número de cultivares disponíveis no mercado mais opções os técnicos têm para recomendar aos produtores forrageiras para condições especificas e principalmente aumentar a diversidade de forrageiras nas fazendas como base para minimizar danos e prejuízos por estresses causados por efeitos abióticos (extremos de temperatura e umidade) e bióticos (insetos pragas e doenças) sobre as pastagens. Por outro lado, a cada novo lançamento cria-se uma confusão no mercado entre os interessados com seus respectivos interesses: a empresa que lançou o cultivar, as empresas que produzem e comercializam as sementes, os técnicos que orientam os pecuaristas e os pecuaristas. E nesse contexto tem sido frequente a divulgação de dados e informações sem embasamento cientifico e sem validação com promessas de sucesso simplesmente por estar implantando um novo cultivar ou substituindo um cultivar tradicional por um recém-lançado. O mais preocupante é quando se ouve de profissionais que atuam diretamente na área de Forragicultura e Pastagens (consultores, professores e pesquisadores) dados e informações que são aceitáveis vindos de leigos, mas não de especialistas. Então é oportuno trazer mais uma vez esse tema com o objetivo de descrever parâmetros científicos/técnicos para a escolha de espécies forrageiras evitando-se assim os insucessos advindos de escolha e estabelecimento de espécies/cultivares forrageiros não adaptados a condições ambientais especificas. Antes da avaliação de parâmetros para a escolha da espécie forrageira, o técnico que assiste ao pecuarista deve estudar o ambiente onde está a fazenda, compreendendo este o clima, o solo, os insetos, pragas e as doenças de ocorrência na propriedade e região. Com estas informações e dados o técnico busca nas fontes de consulta (Anais de Congressos e Simpósios, teses e dissertações de pós-graduação, Internet, consulta a pesquisadores e outros técnicos…) as características das diferentes espécies forrageiras. Agora vamos aos parâmetros para a escolha da espécie forrageira: Na segunda parte dessa sequência de textos descreverei outros parâmetros para a escolha de espécies forrageiras – aguarde, será na próxima semana.