Diferimento de Pastagens: Estratégia Básica para Garantir Disponibilidade de Forragem para a Estação da Seca – Parte 01

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Dia 21 de junho chegará a estação de inverno de 2025 no Hemisfério Sul e se você trabalha em regiões onde essa estação coincide com a estação da seca, penso que o conteúdo desse artigo é do seu interesse. Sob as condições climáticas dessa estação, a disponibilidade e a qualidade da forragem cairão gradativamente ao longo da mesma. Mas hoje, nesse momento que estou escrevendo esse texto, ainda é 03 de fevereiro de 2025, portanto quase cinco meses para chegar a estação de inverno. Não está muito distante? O período de chuvas ainda não chegou ao seu fim. Então, por que se preocupar agora com a seca? De fato, eu afirmo que para a maioria das estratégias para a conservação e transferência de forragem para a estação da seca já está é tarde. Entretanto, uma das estratégias para garantir pelo menos disponibilidade de forragem em um planejamento alimentar em sistemas de pastoris ainda está em tempo – é o diferimento de pastagens. O diferimento ou o protelamento da pastagem é um método de pastoreio que consiste no descanso de uma parte da área de pastagens da propriedade, antes do término do período chuvoso, com o objetivo de acumular e transferir forragem que será consumida no período da seca. Este método é conhecido no meio pecuário como “a veda do pasto”, ou a “pastagem vedada” e a forragem acumulada como “feno em pé”. Pode ser usado de forma combinada com outros métodos de pastoreio, tais como lotação continua e lotação rotativa, mas é normalmente usado em sistemas de baixa e média intensificação da produção. O diferimento da pastagem em uma fazenda deve iniciar entre 60 a 120 dias antes de se estabelecer na região o fator climático que determina a diminuição ou a paralisação do crescimento da pastagem. Na maioria das regiões pecuárias do Brasil, aquele fator é o déficit hídrico causado pela diminuição e posterior interrupção das chuvas. Outro parâmetro importante para determinar quando deve ser o início do diferimento das pastagens, é o balanço entre quantidade de forragem que se deseja acumular e o seu valor nutritivo. Quanto mais cedo em relação ao término das chuvas for feito o diferimento, maior será a quantidade de forragem acumulada, mas menor será o seu valor nutritivo, e vice-versa. Pensando nas diferentes categorias animais de um rebanho, o diferimento entre 60 a 90 dias antes do seu pastejo pelos animais, seria mais indicado para animais jovens em crescimento, que exigem forragem com maior concentração de nutrientes e digestibilidade mais alta, enquanto o diferimento entre 90 a 120 dias antes do seu uso seria mais para animais adultos que entrarem na seca com boa condição corporal, que precisam de maior quantidade de forragem, mas conseguem aproveitar melhor forragem de menor valor nutritivo. Além da queda acentuada no valor nutritivo da forragem proveniente de pastagem diferida, as perdas de forragem por tombamento de plantas também são altas já que a altura da planta fica maior e a estrutura desta muda para uma maior relação caule/folha, com maior peso, condição que aumenta ainda mais as perdas de forragem. As melhores espécies forrageiras para o diferimento da pastagem, já pesquisadas, em ordem decrescente, são: a Brachiaria decumbens, os cultivares de Brachiaria brizantha, as gramas do gênero Cynodon. Estas espécies forrageiras apresentam algumas características morfológicas e fisiológicas que favorece o seu uso em método de pastoreio diferido: maior proporção de folhas em relação a talos, talos finos (as Braquiárias e o Cynodon) e florescimento tardio (no caso do Braquiarão) ou não florescem (algumas variedades de Cynodon spp). Na segunda parte dessa sequência de artigos descreverei os procedimentos de manejo da pastagem para o seu diferimento – aguarde.

Estabelecimento da Pastagem nos Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) – Parte 02

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Meados de janeiro de 2025, estou escrevendo para aqueles produtores que adotam sistemas de Integração Lavoura–Pecuária (ILP) e para consultores/técnicos que orientam produtores que adotam esse sistema de produção. Na maioria das regiões de agricultura do país, daqui a um mês, fevereiro de 2025, vai iniciar a colheita principalmente na cultura da soja. Na Parte 01 dessa série de artigos citei a sequência de procedimentos para o manejo da pastagem em sistemas de ILP e critérios/parâmetros para a escolha de espécies/cultivares forrageiros para o estabelecimento de pastagens nesse sistema de produção, Nesta Parte 02, descreverei algumas bases para o estabelecimento da pastagem em sistemas de ILP. Para o estabelecimento de uma pastagem que será perenizada são adotadas a semeadura a lanço manual, a lanço com bomba costal de fluxo de ar, a lanço tratorizado com distribuidores de adubos e com semeadoras elétricas; em linha com semeadoras e plantadoras; por avião e por drone. Estes métodos de semeadura são condicionados pelo tamanho da área, pelo relevo e drenagem do solo, pelos métodos que foram adotados para a limpeza do terreno e o método de preparo do solo. Ainda se estabelece pastagem perenizada por meio de mudas (por via vegetativa) com plantio manual em cova e em sulco, a lanço, e com plantadoras em linhas, mas este o estabelecimento de pastagens por meio de mudas não é comum em sistemas de ILP. E como semear pastagens em um sistema de ILP? Se adotam os seguintes métodos de semeaduras: O padrão das sementes deve ser de alta qualidade independente da pastagem ser perene ou ser componente de um sistema de ILP. No entanto, para este sistema, é fundamental semear sementes com alto porcentual de pureza (o ideal é ser acima de 90%) e tratadas com inseticidas e fungicidas para não levar para a área de agricultura as sementes de plantas daninhas, ovos de insetos-pragas e esporos de fungos, pois as culturas agrícolas são bem mais suscetíveis e sensíveis aos estresses bióticos. Por enquanto, é isso, a soja ainda precisa completar seu ciclo, ser colhida, a pastagem estabelecida… No mês de maio escreverei uma sequência de artigos sobre o manejo do pastoreio em pastagens no sistema de ILP. Aguarde!

Estabelecimento da Pastagem nos Sistemas de Integração Lavoura/Pecuária (ILP)

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Nos últimos seis artigos que escrevi para prezado leitor, tratei do tema “estabelecimento da pastagem”, por sementes e por mudas e os procedimentos para a primeira colheita da forragem. O objetivo desse e do próximo artigo será o de tratar desse tema aplicado a sistemas de integração lavoura/pecuária (ILP). Início de janeiro de 2025, estou escrevendo para aqueles produtores que adotam sistemas de ILP e para consultores/técnicos que orientam produtores que adotam esse sistema de produção. Em regiões de agricultura do país, daqui a um mês, fevereiro de 2025, vai iniciar a colheita principalmente na cultura da soja e se você adota um sistema de ILP este artigo será interessante. No manejo de uma pastagem que será perenizada oriento seguir a seguinte sequência de procedimentos: E para um sistema de ILP, o manejo de pastagens deve seguir aquela mesma sequência? Sim, com particularidades, mas os fundamentos são os mesmos. Na escolha de espécies forrageiras para o estabelecimento de pastagens que serão perenizadas consideram-se as características:  E para um sistema de ILP, quais características de plantas forrageiras deverão ser avaliadas? Antes de responder a esta pergunta comento que existem várias modalidades de ILP, mas neste artigo vou dar ênfase à modalidade que tem sido mais adotada, a sucessão de cultura, na qual cultura agrícola e pastagem são cultivadas na mesma área e no mesmo ano. Além das características já citadas ainda são desejáveis alta produtividade de biomassa para uma cobertura de solo com palhada, capacidade de supressão de plantas daninhas, controle de fungos (por exemplo, mofo branco), controle de insetos pragas (por exemplo, percevejo-castanho, nematoides), e maior sensibilidade ao glifosato. Andropogon gayanus, Brachiaria brizantha cultivares Marandu, Paiaguás, Piatã e Xaraés, Brachiaria decumbens, Brachiaria ruziziensis, Brachiaria humidicola comum e cv Dyctioneura, Panicum sp cultivares Massai, Mombaça e Tanzânia, são forrageiras já avaliadas pela pesquisa na busca daquelas características desejáveis, mas a mais cultivada pelos produtores na ILP tem sido a B. ruziziensis. Entretanto, a maioria das forrageiras avaliadas produzem mais massa de forragem, e consequentemente têm maior capacidade de suporte, que a pastagem de B. ruziziensis. Mas esta tem sido a mais aceita basicamente por duas razões: sementes mais baratas e menor dose de herbicida para dessecar a biomassa para a formação de palhada. Das forrageiras avaliadas, o pasto da B. brizantha cv Paiaguás é dessecado com a mesma dose de herbicida dessecante usada na dessecação da B. ruziziensis. De fato, os preços das sementes de outras forrageiras têm custado até duas vezes e a dose de herbicida dessecante tem sido até três vezes maior que para B. ruziziensis. Por outro lado, as outras forrageiras têm produzido entre 3 a 4 @/ha a mais que as pastagens de B. ruziziensis. Ou seja, tem potencial para pagar o maior custeio com sementes e herbicida dessecante e ainda deixar lucro.