Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.
Continuando a série de artigos sobre o tema que intitula esse texto, hoje, dia 15 de agosto de 2025, já no segundo semestre do ano, dois a três meses para o início do período de chuvas na maior parte do território brasileiro, onde as chuvas caem nas estações de primavera (outubro a dezembro) e verão (janeiro a março).
Nas primeira e segunda partes dessa sequência de artigos citei e descrevi os parâmetros “exigências climáticas e em solos”, “comportamento frente a insetos pragas e doenças”, “aceitabilidade pelos animais”, “distúrbios metabólicos causados aos animais”, “formas de plantio”, “formas de uso”. E na terceira parte citei e expliquei fundamentos que suportam a conclusão de que as características “quantidade e qualidade de forragem” são, em grande medida, mais condicionadas pelo meio (leia, manejo da pastagem) do que pelo genótipo (leia, genética da planta).
Mas não existem mesmo diferenças entre forrageiras para aqueles parâmetros? Os novos cultivares não são superiores aos tradicionais? Há sim, mas são pequenas e existem mais diferenças por causa das diferenças de ambientes e pela interação genótipo/ambiente do que pelas diferenças entre genótipos. Os dados das tabelas 1, 2 e 3 darão suporte à estas conclusões.
Por 22 anos (entre 1998 e 2020) integrantes do Grupo de Estudos e Trabalhos em Pasto (GET) compararam os cultivares de Mombaça e Tanzânia e Tifton 85 na fazenda escola das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), em pastagens intensificadas. Na Tabela 1 tem os valores médios para indicadores que refletem os parâmetros qualidade (dada pelo GMD) e produtividade de forragem (dada em t e kg de MS/ha e TL) de quatro anos de avaliações.
Tabela 1- Indicadores de qualidade e de produtividade alcançados em pastagens intensificadas entre os anos de 1998/99 e 2002/2003 manejadas em pastoreio de lotação rotativa.
Forrageira | MF PRÉp (t MS/ha)1 | MF PÓSp (t MS/ha)2 | TAF (kg de MS/ha/dia)3 | TL (UA/ha/ano)4 | GMD (kg/dia)5 |
Tanzânia | 5,1 | 2,6 | 86 | 5,3 | 0,63 |
Mombaça | 5,0 | 2,2 | 81 | 5,0 | 0,61 |
Tifton 85 | 5,7 | 2,6 | 85 | 5,9 | 0,55 |
1MFPREp (t MS/ha): massa de forragem no pré-pastejo em tonelada de matéria seca por hectare; 2MFPÓSp (t MS/ha): massa de forragem no pós-pastejo; 3TAF (kg MS/ha/dia): taxa de acúmulo de forragem em quilo de matéria seca por hectare por dia; 4TL (UA/ha): taxa de lotação em unidade animal por hectare; 5GMD (kg/dia): ganho médio diario apenas com suplementos minerais.
Estas produtividades foram alcançadas em um ambiente com temperatura média anual de 23 oC (20 a 25 oC, entre mínima e máxima); 1.670 mm de precipitação anual (1.261 a 2.033 mm entre mínima e máxima); 357 kg/ha de N, 80 kg/ha de P2O5, 184 kg/ha de K2O e 43 kg/ha de enxofre na média dos quatro anos.
RESENDE; AGUIAR, 2004.
Ainda o GET comparou a B. hibrida cultivar Convert HD364 (capim Mulato 2) com seus progenitores, entre 2012 e 2016. Na Tabela 2 tem os valores médios para indicadores que refletem os parâmetros qualidade (dada pelo GMD) e produtividade de forragem (dada pela TL) das forrageiras avaliadas.
Tabela 2 – Indicadores de produtividade1 alcançados em pastagens intensificadas de B. hibrida Convert cv HD364 (BH) e seus progenitores, B. decumbens (BD), B. brizantha cv Marandu (BB) e B. ruziziensis (BR) em um período de 450 dias de avaliação (junho de 2013 a março de 2014 e de outubro de 2014 a março de 2015) manejadas em pastoreio de lotação alternada.
Forrageira | ||||||||
Indicador | Unidade | BH HD 364 | BD | BB | BR | Média | ||
Taxa de lotação | UA/ha2 | 4.46 | 4.02 | 3.83 | 3.60 | 3.98 | ||
Ganho médio diário | kg/cab/dia | 0.76 | 0.70 | 0.66 | 0.74 | 0.72 | ||
Produtividade da terra | @/ha | 62 | 55 | 50 | 54 | 55 | ||
4EUN | kg PC/kg N | 2.93 | 2.44 | 2.44 | 2.60 | 2.60 | ||
1Produtividades alcançadas com 2.150 mm de chuvas e 5,0 t/ha de calcário + 1,26 t/ha de gesso + 209 kg/ha de P2O5 + 130 kg/ha de K2O + 318 kg/ha de N + 123 kg/ha de enxofre (do gesso) durante o período experimental.
2Unidade Animal; 3Peso Corporal; 4Eficiência de Uso de Nitrogênio (112 kg de N via adubação e assumindo + 9 kg N-atmosférico + 7,5 kg N-mineral do solo + 142 kg N-matéria orgânica do solo).
Os animais foram suplementados apenas com suplementos minerais.
Fonte: SILVA; AGUIAR, 2014; COSTA; AGUIAR, 2015; COELHO; AGUIAR, 2016.
Avaliando os parâmetros GMD e TL nos períodos de chuva e de seca, e a produtividade por hectare, de seis cultivares de Brachiaria sp e seis de P. maximum, lançados pela EMBRAPA, desde o lançamento do cultivar de Brachiaria, o Braquiarão, em 1984, até o lançamento da B. hibrida cultivar Ipyporã, em 2017, e do cultivar de P. maximum, o Tanzânia, lançado em 1990, até o lançamento do cultivar Quênia, em 2017 não se encontra diferenças significativas que justifiquem a escolha de uma forrageira para o plantio da pastagem com base naqueles parâmetros, e muito menos substituir uma forrageira já estabelecida por outra.
Ainda há um conceito arraigado de que forrageiras da espécie P. maximum têm melhor qualidade e maior produtividade de forragem que forrageiras de outros gêneros ou espécies e, portanto, são as eleitas para sistemas intensivos, até mesmo justificando a substituição de um cultivar de uma espécie qualquer por um cultivar de P. maximum.
Na Tabela 3 tem os valores médios para indicadores que refletem os parâmetros qualidade (pelo GMD) e produtividade de forragem (TL) de seis cultivares de Brachiaria sp e seis de P. maximum lançados pela EMBRAPA.
Tabela 3 – Ganho médio diário (GMD), taxa de lotação (TL) e produtividade por hectare em peso corporal (kg de PC) e entre parêntesis em @/ha de cultivares dos gêneros Brachiaria sp e Panicum sp.
GMD (kg/dia) | TL (cabeças/ha) | PC | ||||
Forrageira | Chuvas | Seca | Chuvas | Seca | kg ha/ano | Fonte |
Brachiaria sp | 0,59 | 0,30 | 4.2 | 1.7 | 618 (20,6@) | EMBRAPA |
Panicum sp | 0,61 | 0,32 | 3.9 | 2.2 | 741 (24,7@) | |
Média | 0,60 | 0,31 | 4.0 | 1.9 | 679 (22,6@) |
Então se as diferenças entre forrageiras para qualidade e produtividade de forragem não são significativas quais parâmetros devem ser avaliados para a escolha de forrageiras para o plantio da pastagem? Leia a parte 01 da sequência de artigos sobre o tema em questão.
Se o pecuarista pretende intensificar a produção animal em pasto comece pelas pastagens cujas espécies forrageiras estejam adaptadas há anos na sua fazenda, mesmo mal manejadas, desde que o estande de plantas esteja uniforme e preservado.
Para o pecuarista seria mais fácil ter disponível no mercado, forrageiras que naturalmente apresentassem melhor qualidade e maior produtividade de forragem, independente das práticas de manejo que fossem adotadas. E ele acredita que isso seja possível, mas infelizmente, não é. Ele precisa mudar de atitude.
Um detalhe: veja nas tabelas 1, 2 e 3 que as TL variaram entre 3,6 a 5,9 UA/ha (GET:FAZU), que o GMD anual variou entre 0,445 (EMBRAPA) a 0,72 kg/cabeça/dia (GET:FAZU) e as produtividades variaram entre 20,6 (EMBRAPA) a 50 @/ha/ano (GET:FAZU). Pergunta-se: qual é a produtividade média das pastagens brasileiras? Para GMD é de 0,23 kg/dia (já descontados o ganho com animais confinados). A TL é de 1,32 cabeça/ha correspondendo a 1,02 UA/ha. A produtividade por hectare é de 3,7 @/ha/ano (já descontado o ganho com animais confinados).
Então pecuarista, se a sua fazenda ainda tem índices na média das pastagens brasileiras, ou que seja o dobro ou que seja o triplo, se preocupe primeiro em mudar o manejo da pastagem para aumentar seus índices de produtividade antes de pensar em substituir a espécie forrageira tradicionalmente explorada na sua fazenda.