Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.
Dia 12 de abril de 2025, a estação de verão já se foi, já são 22 dias da de outono. Você já fez o inventário de suas pastagens? (veja artigos publicados nesse site nos dias 13 e 19 de março). Se fez, tem áreas para serem estabelecidas? Sua propriedade está localizada na região tropical do Brasil onde o período chuvoso se estende pelas estações de primavera (outubro a dezembro) e verão (janeiro a março)? Se sim, essa sequência de artigos deverá ser do seu interesse. Leia a parte 01 que foi publicada nesse site na semana passada.
Para o início da operação de preparo do solo é preciso ir a campo para avaliar o grau de sua umidade. O ideal é que este esteja friável (macio). Quando seco ao ser preparado com arados e grades os agregados do solo serão destruídos e a argila que é a menor partícula e, portanto, mais densa será arrastada pelas águas das chuvas e se acumulará em algum horizonte no perfil do solo provocando um adensamento na camada onde se acumula levando à compactação.
Quando muito úmido onde as aivecas ou os discos dos arados e das grades passarem se formará um “espelhamento” que levará a um adensamento e à compactação do solo.
Recomendo que o preparo de solo tenha início no final do período chuvoso aí na região onde está a sua fazenda quando o solo ainda estará com umidade adequada, ou seja, friável, macio. Nesta condição, além de não provocar a compactação do solo, o rendimento operacional das máquinas e implementos será maior, com menor custo de combustíveis e menor desgaste dos implementos e das máquinas.
Ainda, iniciar o preparo do solo no final do período chuvoso é importante para incorporar corretivos (calcário, agrosilicatos, etc.) e dar tempo para que estes reajam no solo até o início das próximas chuvas quando o plantio da pastagem será realizado. O solo estando ainda úmido favorece a incorporação dos corretivos na profundidade necessária. Quando seco, e em solos mais pesados (argilosos) quase nunca os corretivos são bem incorporados o que provoca o acúmulo destes em menor profundidade levando à uma supercalagem e suas graves consequências.
O início do preparo do solo no final do período chuvoso ainda tem a vantagem de ser mais eficaz como método mecânico de controle de plantas daninhas e insetos pragas (cigarrinhas, cupins, formigas, percevejo castanho-das-raízes etc.) porque o solo ficará exposto à radiação solar durante a seca. Por exemplo, para pragas cortadoras, tais como formigas, quando em alta infestação, o método mais eficaz é deixar o terreno livre de vegetação por pelo menos quatro meses durante a seca. Em solos infestados pelo percevejo castanho-das-raízes o preparo profundo do solo durante a seca é um método mecânico eficaz de controle deste inseto praga e neste caso o arado de aivecas é melhor que o de discos por penetrar mais profundo e tombar a camada de solo.
Em solos de texturas mais leves, tais como os arenosos (menos de 15% de argila) e os médios (16 a 35% de argila) a sequência de preparo de solo é a seguinte: grade pesada, grade intermediária e grade leve niveladora. Em solos com texturas mais pesadas, tais como os argilosos (36 a 60% de argila) e os muito argilosos (mais de 60% de argila) a sequêncianecessária pode ser: aração, grade pesada, grade intermediária e grade leve niveladora.
Quando o terreno está infestado por plantas daninhasde difícil controle, principalmente aquelas que deixam um banco de sementes no solo com grandes quantidades de sementes, tais como os capins infestantes carrapicho ou timbete (Cenchrus echinatus), amargoso (Digitaria insularis), capivara ou navalha (Paspalum sp) e capeta (Sporobolus indicus),etc., é recomendado o preparo com aração invertida com a seguinte sequência: grade pesada, grade intermediaria, aração, grade intermediaria e grade leve. Esta sequência é conhecida por aração invertida porque no preparo convencional do solo a aração é a primeira operação de preparo de solo: aração, grades pesadas e intermediárias e grade leve.
A sequência de preparo de solo na seca com as gradagens tem a finalidade de expor a parte subterrânea da planta ao sol (raízes, rizomas, tubérculos etc.), como também picar estes tecidos acelerando a sua secagem e morte. Já a aração invertida próxima do momento do plantio, tem a finalidade de enterrar o banco de sementes o mais profundo possível no solo impedindo ou pelo menos atrasando a sua germinação. Aqui também o arado de aivecas é mais eficaz que o de discos.
Estas sequencias de preparo de solo citadas devem ser executadas já a partir do último mês de chuvas na região, desde que as condições de umidade do solo permitam o trabalho das maquinas e dos implementos e devem ser feitas de forma alternada, por exemplo, para regiões com período chuvoso entre setembro a abril, assim: maio aração ou grade pesada; junho deixa o solo exposto; julho, grade pesada ou intermediária; agosto deixa o solo exposto; setembro aração invertida ou grade intermediária ou leve; outubro grade leve niveladora deixando o terreno já preparado para a semeadura ou o plantio de mudas a partir de outubro:novembro.
A última operação de preparo do solo com a grade leve niveladora tem a finalidade de preparar uma “cama” para as sementes, para que a semeadura seja uniforme e a germinação seja rápida e também uniforme. Quanto menor ficar a partícula do solo por mais tempo a água das chuvas ficará retida o que pode ser determinante para o estabelecimento da pastagem se ocorrerem veranicos (estiagens). Se o solo ficar muito pulverizado é recomendado compactar o terreno com rolos compactadores antes da semeadura para evitar o arraste de solo com sementes, corretivos e adubos pelas águas das chuvas e o enterro de sementes em maiores profundidades que impeçam a sua germinação ou a atrase.
Nas situações em que o solo será preparado e, portanto, ficará exposto, é fundamental a adoção de práticas conservacionistas, assim: solos planos (menos de 3% de declividade) basta fazer a sequência de operações em nível; solos levemente ondulados (de 3 a 8% de declividade) além das operações em nível pode-se implantar cordões de contorno; para solos ondulados (de 8 a 12% de declividade) além das operações em nível é preciso levantar terraços em nível ou em gradiente, dependendo da textura do solo e da intensidade das chuvas na região (no campo os terraços são conhecidos por curva de nível). Para terrenos fortemente ondulados (mais de 12% de declividade) é preciso saber se tem licença ambiental para ser cultivado porque nesta declividade muitas áreas são para preservação permanente (APP). Nesta declividade não se recomenda o preparo de solo.
E o plantio de pastagem em sistema plantio direto na palha? Já é uma tecnologia validada, mas será tema para uma outra oportunidade.
E o plantio de pastagem por meio de mudas? Tem suas particularidades? Sim, mas também será um tema para uma outra oportunidade.