O Manejo do Pastoreio nos Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP)

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. No mês de janeiro de 2025 escrevi para esse site dois artigos sobre o “estabelecimento da pastagemnos sistemas de integração lavoura/pecuária” e conclui o texto do segundo artigo assim: “por enquanto é isso, a soja ainda precisa completar seu ciclo, ser colhida, a pastagem estabelecida …: lá pelo mês de maio escreverei uma sequência de artigos sobre o manejo do pastoreio em pastagens no sistema de ILP – aguarde. Hoje, dia 13 de maio de 2025, chegou o momento para dar sequência ao proposto.  Em fazendas cuja atividade é apenas a pecuária a infraestrutura desejável das pastagens deve buscar piquetes de formato quadrado com área de até 7 ha, pastagens redivididas com cercas convencionais e ou elétricas, água suprida em bebedouro em qualidade e quantidade, cochos dimensionados para o tamanho do lote de animais, sombreamento bem dimensionado para o lote de animais.  E qual infraestrutura o pecuarista precisa em um sistema de ILP? Neste sistema nem sempre é possível ter a infraestrutura desejável sem atrapalhar o rendimento operacional das máquinas, implementos e veículos durante a fase da agricultura no sistema ILP. Assim os piquetes nem sempre tem o formato quadrado e são grandes, porque de fato são talhões de lavoura; nem sempre têm sombreamento natural, provido por arvores, porque estas são suprimidas. Como os talhões são relativamente grandes os animais andam mais até os pontos onde está a infraestrutura de bebedouros, cochos, sombreamentos, levando a condição de pastejo desuniforme, com áreas subpastejadas e com áreas superpastejadas em um mesmo talhão. E nas áreas superpastejadas ocorre problema de plantabilidadeda cultura agrícola por causa do adensamento do solo, e nas áreas subpastejadas pode haver excesso de palhada que também compromete a plantabilidade.  Muitos produtores que atendo têm minimizado esta condição indesejável com o uso de cercas elétricas móveis e outros que atendo têm preferido colher e conservar a forragem disponível nas áreas de ILP nas formas de feno, présecado e silagem. No manejo da pastagem, o manejo do pastoreio é o procedimento diário de conduzir os animais para colher a forragem disponível. Aqui o objetivo é alcançar pressão ótima de pastejo quando a taxa de lotação é ajustada à capacidade de suporte da pastagem, e maximizar o consumo de forragem pelo animal para maximizar seu desempenho, alcançar a taxa de lotação suportada para maximizar a produtividade por área, e ao mesmo tempo preservar o solo e o estande de plantas do pasto. E em um sistema de ILP tem objetivos além destes? Sim, pois além dos ganhos diretos da pecuária, em desempenho individual e em produtividade por hectare, se tem os ganhos trazidos pela palhada deixada pela planta forrageira ou por esta com a da cultura agrícola.  No cultivo solteiro de milho, a massa de forragem inicial logo após a colheita dos grãos foi de 4 t de matéria seca/ha (MS/ha), e a massa de forragem final foi de 2 t de MS/ha, enquanto nas áreas em consórcio de milho com pastagem a massa de forragem inicial variou entre 7,0 a 8,5 t de MS/ha, e a final entre 2,5 a 4,0 t de MS/ha. Observa-se aí a contribuição da biomassa das plantas forrageiras no consórcio com o milho. Em grande medida os ganhos alcançados na lavoura na modalidade de ILP se deve aos efeitos das palhadas de forrageiras. Para cada 1.000 kg a mais de palhada por hectare acima de 2.458 kg de MS/ha no pré-plantio de soja foi possível aumentar em 364 kg/ha de grãos de soja ou aproximadamente 6 sacas/ha. E aqui vejo o principal erro cometido pelos produtores no sistema de ILP. Não deixar palhada suficiente para alcançar os ganhos que este componente traz para o sistema. E não deixar palhada suficiente significa “superpastejo” do pasto durante a fase que a área é explorada com pastagem. Assim, não é possível maximizar nem a produtividade da pecuária (o desempenho por animal e a produtividade por área), nem a produtividade da agricultura por deixar o solo mais exposto, mais adensado, por falta de palhada.  

Professor Adilson Aguiar acompanha evolução do manejo em pastagens e produção animal no Condomínio Canto Porto

Nos dias 29 e 30 de abril de 2025, o professor Adilson Aguiar esteve na Fazenda Central, localizada no município de Mogi Mirim (SP), para dar continuidade ao programa de consultoria técnica e econômica voltado à produção animal em pasto. O professor iniciou sua atuação neste projeto em julho de 2017, contribuindo diretamente para o aprimoramento dos sistemas de produção das fazendas do Condomínio Canto Porto, empresa de propriedade do senhor Antônio Carlos Canto Porto Filho e seus filhos. O condomínio é composto pelas Fazendas Central e Santo Antônio, cada uma com vocações distintas, mas integradas tecnicamente. Na Fazenda Central, são desenvolvidos programas de seleção genética das raças Gir Leiteiro e Girolando no setor de bovinos, e da raça Crioulo no setor de equinos. As atividades reprodutivas incluem técnicas avançadas de transferência de embriões e fertilização in vitro (FIV). Nesta fazenda também estão sediadas a CPEX e a Invrito Equinos, referências em reprodução animal. Já na Fazenda Santo Antônio, o foco é a produção intensiva de leite com vacas das raças Girolando e Holandesa, além da produção agrícola de grãos, como soja e milho. “A evolução da produção leiteira ao longo dos anos tem sido notável. Em janeiro de 2019, a média diária era de 9.380 litros. Já em dezembro do mesmo ano, a produção atingiu 17.532 litros/dia com 757 vacas e produtividade de 23,1 litros/vaca/dia. Em janeiro de 2024, o volume diário chegou a 50.783 litros, com 1.575 vacas em lactação e média individual de 32,3 litros/vaca/dia — um crescimento de 190% no volume total e de 40% na produtividade por animal, em apenas cinco anos”, destaca Aguiar. O desempenho segue em ascensão. Em outubro de 2024, a produção média diária foi de 61.273 litros com 1.756 vacas em lactação (34,9 litros/vaca/dia). Já nos dias 29 e 30 de abril de 2025, a produção atingiu 76.000 litros/dia. A meta do projeto é alcançar 84.000 litros diários com a ordenha de 2.404 vacas, todas manejadas em sistema intensivo tipo compost barn. Na Fazenda Central, os sistemas irrigados 1, 2, 3 e 4, com pastagens de capim-tifton 85, estavam sendo pastejados por novilhas e vacas doadoras da raça Gir, além de receptoras cruzadas. Todos os animais eram suplementados apenas com sal mineral. As taxas de lotação registradas nos dias da visita foram de 6,1 cabeças/ha e 5,3 UA/ha — índices elevados, viabilizados pela irrigação por aspersão em malha. As pastagens de sequeiro são cultivadas com Brachiaria sp. (Braquiarão e Decumbens), Panicum sp. (Mombaça) e Cynodon sp. (Tifton 85 e Vaquero), todas manejadas com correção e adubação regular dos solos. Nestas áreas, as taxas de lotação observadas foram de 2,4 cabeças/ha e 2,2 UA/ha, também com suplementação exclusivamente mineral. No projeto de seleção da raça Crioulo, desenvolvido na Cabanha Canto Porto, as pastagens de sequeiro com capim-tifton 85 são igualmente intensificadas com práticas de adubação e correção de solo. Durante a visita, a lotação média foi de 2,73 equinos/ha e 2,6 UA/ha. A gestão dos projetos das fazendas é conduzida por Geraldo Donizete Marcantônio, com 32 anos de atuação, e pelo médico veterinário Thiago Nogueira Marcantônio, que participa há 9 anos. As atividades agrícolas e o manejo das pastagens estão sob responsabilidade do engenheiro agrônomo Diogo Nogueira Marcantônio. No projeto, o professor Adilson Aguiar orienta tecnicamente todo o sistema de manejo de pastagens, incluindo a escolha das espécies forrageiras, implantação das pastagens, manejo do pastoreio, correção e adubação dos solos, além do controle de plantas daninhas e pragas. Ele também assessora a implantação da infraestrutura necessária, como piquetes, bebedouros e cercas, além da produção de volumosos suplementares.