Critérios para a Compra de Sementes de Plantas Forrageiras – Parte 03

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Na parte 01 dessa sequência de artigos sobre o tema em questão, citei e descrevi os atributos de uma semente, e quando cotar e comprar, e na parte 02 citei e descrevi os tipos de tratamentos de sementes de plantas forrageiras. O objetivo dessa terceira e última parte dessa sequência de artigos será como calcular a taxa de semeadura …Vamos lá. Agora é importante calcular a taxa de semeadura (TS). Para sementes convencionais usa-se o parâmetro valor cultural (VC) para este cálculo. O VC já foi o único parâmetro para a escolha das sementes mais utilizado no mercado. Este VC é determinado pelos atributos físicos (pureza) e fisiológico (germinação) ao mesmo tempo e por definição é o percentual de sementes da espécie ou cultivar desejada, contido no lote de sementes, com possibilidades de germinação e estabelecer plantas normais em condições de campo. Cada espécie forrageira e cada cultivar dentro da espécie tem um número de sementes por grama e um estande de plântulas desejável após a germinação das sementes. Com base nestes parâmetros e o VC do lote de sementes comprado calcula-se a TS, que é dada em quilos de sementes por hectare (kg/ha). Quando são sementes incrustradas é preciso pedir para a empresa fornecer o parâmetro “peso de mil sementes” (PMS), para então fazer o cálculo da taxa de semeadura. Ainda para o cálculo TS é preciso considerar que mesmo em condições ideais a taxa de germinação no campo será de 40 a 50% daquela obtida em condições controladas no teste de germinação em laboratório ou no teste de viabilidade das sementes pelo tetrazólio. Ainda é preciso considerar se a semeadura será manual: na cova ou manual a lanço ou com matraca ou com bomba de fluxo de ar; ou tratorizado: com plantadoras em linha ou a lanço com distribuidor de adubos ou com semeadoras elétricas próprias para sementes de plantas forrageiras, ou se será aéreo, por meio de aviões ou drones. O importante é considerar que quanto piores são as condições de semeadura e para a germinação das sementes, maior deverá ser a TS.  Mesmo comprando sementes de empresas idôneas recomendo que quando a carga de sementes for entregue que se faça coleta de amostras para o envio para um laboratório independente e oficial para análise. Ainda recomendo fazer o teste de germinação na própria fazenda, em canteiro. Assim o pecuarista saberá de fato o padrão das sementes que irá plantar e se houver qualquer frustração no estabelecimento da pastagem não ficar na dúvida que o insucesso foi por causa da qualidade das sementes, evitando situações constrangedoras com a empresa que vendeu. Ao final é possível calcular e comparar entre as empresas que estão participando das cotações qual apresentará a melhor relação de custo/beneficio. Praticamente em todas as avaliações que já fiz quanto melhor é o padrão das sementes menor será o valor do investimento por hectare para o plantio da pastagem. O parâmetro aqui não deve ser o preço por kg de semente (R$/kg) e sim o preço por ponto de valor cultural (R$/% de VC) ou melhor, o valor final que será investido por hectare entre sementes com o mesmo padrão de qualidade desejável. Se você ainda não fez este passo a passo recomendo que corra porque a “janela” para esta etapa está se fechando e que em 2026 você inicie este passo a passo ainda no primeiro semestre.

Critérios para a Compra de Sementes de Plantas Forrageiras – Parte 02

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Na semana passada escrevi a parte 01 dessa sequência de artigos sobre o tema em questão, citando e descrevendo os atributos de uma semente, quando cotar e  quando comprar e as vantagens dessas tomadas de decisões. O objetivo dessa parte 02 é citar e descrever os tipos de tratamentos de sementes de plantas forrageiras. Vamos lá. Muitos tratamentos têm sido incorporados às sementes de plantas forrageiras nos últimos anos, tais como polimerização, escarificação, peletização e incrustração. A escarificação e a peletização já são tratamentos feitos em sementes de leguminosas há muitas décadas. A escarificação para quebrar a dormência física principalmente de sementes pequenas que têm tegumento duro, e a peletização para incorporar calcário e fontes de enxofre e micronutrientes com a finalidade de atender as exigências das bactérias fixadoras de nitrogênio (N). Para sementes de gramíneas forrageiras (capins) a escarificação é importante para sementes de Brachiaria humidicola (capim Humidicola ou capim Quiquio) por causa da sua alta dormência que é explicada pelo método de colheita de suas sementes na inflorescência. Assim a germinação das sementes desta espécie ocorrerá em um tempo semelhante às daquelas espécies cujas sementes são colhidas por varredura ou na palha. Para outras espécies de gramíneas forrageiras é importante para a eliminação das sementes “meia-grana”, ou seja, aquelas sementes que não completaram a maturação fisiológica. Estas sementes meia-grana são consideradas sementes puras e normalmente germinam, mas originam plantas de baixo vigor e muitas vezes morrem antes de se tornarem plantas adultas. A escarificação é química com ácido sulfúrico. Somente sementes de alto vigor e que completaram a maturação fisiológica tolera a escarificação química. Já para a peletização só se esperam respostas para gramíneas que fixam N, mas esta inferência ainda carece de mais pesquisas para embasar um pacote tecnológico que possa ser recomendado para o pecuarista. A polimerização é importante para regular a entrada de água na semente e é importante principalmente para o estabelecimento de pastagens no clima semiárido e em outros climas, mas com alta frequência de estiagens (veranicos) na época de plantio. Quanto à incrustração é preciso tomar cuidado. Em campo tem sido frequentes as reclamações de atraso e desuniformidade de germinação de sementes e emergência de plântulas. Aqui é importante, mais uma vez, que o pecuarista compre sementes incrustradas de empresas que já dominam este processo. Uma vez o processo sendo bem feito a incrustração traz as seguintes vantagens: facilidade no manuseio das sementes; eliminação do pó; facilidade de regulagem dos equipamentos de plantio (aumento o peso das sementes em 2,5 vezes); facilidade no plantio (não se dividem por camadas como acontece com sementes de baixa porcentagem de pureza facilitando a distribuição uniforme); diminui o problema com a deriva em plantio a lanço e aéreo devido ao aumento no tamanho e no peso das sementes; menor risco de intoxicação do trabalhador pelo tratamento com fungicida e inseticida. Na próxima semana, na parte 03 dessa sequência de artigos, demonstrarei como calcular a taxa de semeadura (kg/ha de sementes).

Critérios para a Compra de Sementes de Plantas Forrageiras – Parte 01

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Estou escrevendo este texto dia 25 de junho de 2025, portanto cinco dias após o início da estação de inverno no Hemisfério Sul. Se você pecuarista é daqueles que já “faz o básico bem feito” já terá comprado sementes de forrageiras para o plantio de suas pastagens na estação chuvosa 2025/2026, e terá feito melhores negociações já que no primeiro semestre os preços normalmente são mais baixos e não se corre o risco de não encontrar sementes da forrageira que você pretendia plantar. A maioria dos pecuaristas lembra que vai estabelecer pastagens quando as chuvas chegam, ou seja, compram sementes no segundo semestre. Mas de fato uma das orientações que mais tenho feito no segundo semestre do ano é a avaliação de cotações de sementes para orientar o pecuarista qual comprar. Ou seja, a maioria dos pecuaristas que atendi em 34 anos de trabalho não fizeram o básico bem feito na compra de sementes. Quais parâmetros adoto para avaliar cotações de sementes de forrageiras e orientar o pecuarista? Um lote de sementes tem basicamente três atributos: o genético, o físico e o fisiológico. O atributo genético é dado pela pureza genética das sementes e evita um problema recorrente que é a mistura varietal. Quando um pecuarista compra sementes de uma espécie A ele não quer ver plantas da espécie B misturadas em sua pastagem após o estabelecimento desta. O mesmo para diferentes cultivares de uma mesma espécie. A pureza genética só pode ser garantida pelas empresas que comercializam as sementes, daí a importância de comprar de empresas idôneas que são aquelas que têm campos de sementes registrados, fiscalizados e certificados e têm seus processos auditados e certificados. É possível visualmente diferenciar sementes de espécies forrageiras de diferentes gêneros, por exemplo, entre Andropogon, Brachiaria e Panicum, mas é quase impossível diferenciar visualmente sementes de forrageiras de mesmo gênero, mas de espécies diferentes (por exemplo, entre Brachiaria decumbens e Brachiaria ruziziensis) e mais ainda, entre sementes de diferentes cultivares de uma mesma espécie (entre as dos cultivares Marandu, Paiaguás, Piatã, Xaraés, todos da espécie Brachiaria brizantha). Outro atributo é o físico o qual é dado pela pureza das sementes. Pela legislação em vigor, a partir de fevereiro de 2009 a porcentagem mínima de pureza varia de 40 (gênero Panicum) a 60% (gênero Brachiaria), dependendo da espécie. Desde então as empresas produtoras de sementes fazem muitos esforços para que a porcentagem mínima de pureza seja 70%, mas ainda sem sucesso. Recomendo para o pecuarista comprar sementes padrão exportação com pureza acima de 90% principalmente para sistemas mais intensivos e para a integração com lavoura. Assim o pecuarista evita a introdução em sua propriedade de sementes de plantas infestantes, ovos de pragas (de insetos e nematoides) e esporos de fungos que vem juntos em sementes com impurezas. Por exemplo, em sementes com baixa porcentagem de pureza de capim-braquiarão colhidas no Brasil Central e plantadas no Bioma Amazônico foram encontrados esporos de fungos dos gêneros Fusarium, Phythium e Rhizoctonia, os mesmos encontrados em raízes deste capim em áreas onde a pastagem se degradou pela síndrome da morte do capim-braquiarão. Outro atributo é o fisiológico dado pela porcentagem de germinação das sementes. Quanto maior for este valor maior é a viabilidade, o vigor, a porcentagem de germinação, a sobrevivência no campo e a longevidade das sementes. Além destes atributos, recomendo que as sementes sejam tratadas com inseticidas e fungicidas e que as sementes já venham tratadas pela empresa vendedora para evitar a manipulação de produtos químicos na fazenda. O tratamento com inseticida traz a segurança na fase de estabelecimento da pastagem principalmente ainda na fase de plântula (estrutura que emerge da semente após a sua germinação). O tratamento com fungicida traz segurança contra doenças provocadas por fungos principalmente em ambientes quentes e úmidos, tais como nos Biomas Amazônico e Mata Atlântica, como também na região Sul, onde as temperaturas são mais amenas, mas a umidade é alta. Na segunda parte citarei e descreverei as tecnologias de tratamentos de sementes, como calcular a taxa de semeadura, etc, aguarde.

Suplementação Animal em Pasto – Parte 03

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Dando sequência à série de artigos que comecei escrevendo no dia 03 de junho de 2024, associando o manejo de pastagens com a suplementação animal, este é o último artigo sobre resultados de pesquisas conduzidos na estação da seca. Objetivou-se neste experimento avaliar os efeitos da disponibilidade de forragem em pastagens de B. brizantha cultivar Marandu (capim-braquiarão) sobre o ganho de peso de animais nelores machos inteiros na fase de recria suplementados com suplemento mineral/proteico/energético com e sem o aditivo virginiamicina, um antibiótico da classe das estreptograminas produzidas por uma linhagem mutante de Streptomyces virginiae. O trabalho foi conduzido entre os meses de julho e outubro no bioma Cerrados, em uma área de 8 hectares (ha) dividida em dois módulos de pastoreio, de 4 ha cada, divididos em 4 piquetes de 1 ha cada. O método de pastoreio adotado foi o de lotação rotativa, com ciclo de pastoreio de 40 dias, com 30 dias de descanso e 10 dias de ocupação. Durante o experimento foram avaliados 24 bovinos da raça Nelore, machos inteiros, com idade e peso inicial médios de 11 meses e 251 kg, respectivamente. com taxa de lotação de 3,0 cabeças/ha (24 animais/8 ha) e 1.67 UA/ha. Houve um período de adaptação de duas semanas antes do início da coleta dos dados. Os animais foram suplementados para um consumo predito de 0,30 % do peso corporal (PC). A dose do aditivo virginiamicina foi de 160 mg/kg de suplemento, ou 45 mg/kg de peso corporal dos animais. Na Tabela 1 estão os níveis de garantia dos suplementos. Tabela 1. Análises bromatológicas dos suplementos mineral/proteico/energético Tratamento PB % NDT % Ca % P % FDN % FDA % NNP % Lignina % VM 22,7 65,2 5,9 1,1 25,8 16,2 1,8 2,3 Testemunha 26,4 65,0 6,7 1,3 32,5 18,6 1,7 3,2 VM: virginiamicina; PB: proteína bruta; NDT: nutrientes digestíveis totais calculados; Ca: cálcio; P: fósforo; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; NNP: nitrogênio não-proteico. Durante o experimento os animais foram pesados mensalmente, após um período de jejum de sólidos por 14 horas. Foram realizadas mensurações de crescimento e produção de forragem, utilizando a técnica da dupla amostragem: direta, por meio do corte e pesagem da massa de forragem; e indireta, por meio da medida da altura do pasto. Foram coletadas amostras para análises bromatológicas da forragem em cada tratamento. A oferta de forragem planejada foi de 5% do peso corporal dos animais. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado, sendo os dados submetidos à análise estatística pelo software SISVAR, versão 5.1, e as médias comparadas teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Durante o período experimental não houve diferença significativa (P > 0,05) para os parâmetros relacionados à disponibilidade de forragem entre os tratamentos (Tabela 2). Tabela 2 – Parâmetros avaliados das forrageiras   TL (UA/ha) CS (UA/ha) TA (kg MS/ha/dia) FA (kg MS/ha) MF pp (kg MS/ha) VM 1,7 a 1,4 a  26,2 a  1.283,7 a  4.299,4 a Testemunha 1,7 a 1,3 a 28,2 a 1.307,4 a 4.461,4 a VM: virginiamicina; TL (UA/ha): taxa de lotação em unidades animais por hectare; CS: capacidade de suporte em unidades animais por hectare; TA: taxa de acúmulo de forragem em kg de matéria seca por hectare por dia; FA: forragem acumulada entre pastejos em kg de matéria seca por hectare; MF pp: massa de forragem pré-pastejo em kg de matéria seca por hectare. Fonte: JUSTINIANO; ALMEIDA; AGUIAR, 2013. Observa-se que houve acúmulo de forragem (kg de MS/ha) e consequente taxa de acúmulo (kg MS/ha/dia) mesmo no período mais crítico do ano, entre julho e outubro, o que possibilitou taxas de lotação (1.7 UA/ha) e capacidades de suporte (entre 1.3 e 1.4 UA/ha) mais altas que as alcançadas na maioria das fazendas mesmo no periodo mais favorável do ano, a estação das chuvas. Este acúmulo de forragem na seca é explicado em grande medida pelo correto manejo do pastoreio e as adubações da pastagem no período das chuvas anterior. Este correto manejo trouxe reflexos positivos também na composição química da forragem. A Tabela 3 traz as médias das análises bromatológicas das amostras de forragem coletadas em cada tratamento. Tabela 3 – Composição química média das forragens    c/ VM s/ VM PB (%) 11,3 9,2 NDT (%) 59,5 55,2 Ca (%) 0,35 0,42 P (%) 0,20 0,20 FDN (%) 64,7 71,8 FDA (%) 31,4 34,4 Lignina 4.04 4.12 Legenda: VM: virginiamicina; PB: proteína bruta; NDT: nutrientes digestíveis totais calculados; Ca: cálcio; P: fósforo; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido. Fonte: JUSTINIANO; ALMEIDA; AGUIAR, 2013. Os consumos médios dos suplementos foram de 0.750 (0.28% do peso) e 0.758 kg/cabeça/dia (0.29% do peso) para animais suplementados com e sem virginiamicina, respectivamente. Houve diferença significativa (P > 0,05) para o parâmetro ganho médio diário (Tabela 4).

Suplementação Animal em Pasto – Parte 02

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Dando sequência à série de artigos que comecei a escrever na semana passada, no dia 03 de junho de 2025, associando o manejo de pastagens com a suplementação animal, ainda escrevendo sobre resultados da estação da seca, este segundo artigo traz dados e conclusões de outro experimento conduzido em bioma Cerrados entre os meses de junho e setembro. Objetivou-se neste experimento avaliar os efeitos da suplementação com suplemento mineral/proteico/energético comparado com apenas a suplementação mineral e da frequência de fornecimento dos suplementos sobre o desempenho animal e os custos de fornecimento. O trabalho foi conduzido em uma área de 8 hectares (ha) dividida em quatro módulos de pastoreio, de 2 ha cada, divididos em 6 piquetes por módulo. Em dois módulos estava estabelecido o Panicum maximum cv. Mombaça e em outros dois o Panicum maximum cv. Tanzânia. As pastagens destas forrageiras foram diferidas por 74 dias antes da entrada dos animais. O método de pastoreio utilizado foi o de lotação rotativa, com ciclo de pastoreio de 42 dias, com 35 dias de descanso e 7 dias de ocupação. Durante o experimento foram avaliados 21 bovinos da raça Nelore, machos inteiros, com idade e peso inicial de 12 meses e 232 kg, respectivamente. com taxa de lotação de 2,62 cabeças/ha (21 animais/8 ha) e 1.35 UA/ha. Houve um período de adaptação de duas semanas antes do início da coleta dos dados. Os tratamentos consistiram nas seguintes frequências de fornecimento: diariamente (T-7), em cincos dias da semana, de segunda a sexta-feira (T-5), em três vezes por semana, segunda, quarta e sexta-feira (T-3) e o tratamento controle com o fornecimento suplemento mineral à vontade (T-C). Os animais dos tratamentos T-7, T-5 e T-3 receberam um suplemento mineral/proteico/energético com consumo predito de 0,25 % do peso corporal (PC). Nos níveis de garantia este suplemento continha 35% de proteina bruta, 22,5% de NNP-equivalente proteico, 55% de nutrientes digestíveis totais calculados (NDT), minerais, 1.5 x 1010 de leveduras, e 200 mg de montesina. Durante o experimento foram feitas três pesagens, no início, no meio e no final do experimento. Antes de cada pesagem os animais foram submetidos a períodos de jejum de sólidos por 14 horas. Foram realizadas mensurações de crescimento e produção de forragem, utilizando a técnica da dupla amostragem: direta, por meio do corte e pesagem da massa de forragem; e indireta, por meio da medida da altura do pasto. Foram coletadas duas amostras para análises bromatológicas da forragem em cada tratamento, no início e no final do experimento. A oferta de forragem planejada foi de 5% do PC dos animais. O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado, sendo os dados submetidos à análise estatística pelo software SISVAR, versão 5.1, e as médias comparadas teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Durante o período experimental não houve diferença significativa (P > 0,05) para os parâmetros relacionados à disponibilidade de forragem entre os tratamentos (Tabela 1). Tabela 1 – Parâmetros avaliados das forrageiras. Variáveis                                                                  Tratamentos   Média CV% T-7 T-5 T-3 T-C Altura pré (cm) 57,9ª 59,8a 56,6ª 57,5ª 58,0 14,10 Altura pós (cm) 37,8ª 43,7a 37,0a 41,1ª 39,9 13,86 MF pré (kg MS/ha) 5.264ª 6.205a 4.981ª 5.321ª 5.443 19,81 MF pós (kg MS/ha) 3.736ª 4.559a 4.139ª 4.753ª 4.997 16,87 Medias seguidas por letras diferentes nas linhas diferiram entre si estatisticamente pelo Teste de Turkey a 5% de significância. CV = coeficiente de variação; T-7 = suplementação diária; T-5 = suplementação de segunda a sexta-feira; T-3 = suplementação segunda, quarta e sexta-feira; T-C = controle. Altura pré pastejo; altura pós pastejo; Massa de forragem pré-pastejo; Massa de forragem pós-pastejo. Fonte: MONTES, 2017. A Tabela 2 traz as médias das análises bromatológicas das amostras de forragem coletadas em cada tratamento. Tabela 2 – Composição química média das forragens.   Tratamentos  Médias   T-7 T-5 T-3 T-C PB (%) 9,6 8,3 7,8 10,2 9,0 NDT (%) 62,6 61,3 59,9 55,1 59,7 Ca (%) 1,14 0,99 0,91 0,93 1,0 P (%) 0,12 0,12 0,13 0,11 0,12 FDN (%) 69,3 71,0 73,0 68,7 70,5 FDA (%) 40,3 40,7 42,0 35,0 39,5 Legenda: PB: proteína bruta; NDT: nutrientes digestíveis totais; Ca: cálcio; P: fósforo; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; T-7 = suplementação diária; T-5 = suplementação segunda a sexta-feira; T-3 = suplementação segunda, quarta e sexta-feira; T-C = controle. Fonte: MONTES, 2017. Os consumos reais dos suplementos múltiplos e mineral foram abaixo do consumo predito nos tratamentos T-7, T-5 e T-3 e T-C nos dois ajustes de consumo (Tabela 3). Tabela 3 – Consumo real e predito de suplemento mineral e múltiplo pelos animais de acordo com manejo de suplementação. Tratamento Consumo real (kg/dia) Média Consumo predito (kg/dia) Média   1¹ 2² Média % PC 1¹ 2² Média % PC T-7 0,38 0,64 0,51 0,21 0,46 0,78 0,62 0,25 T-5 0,29 0,53 0,41 0,16 0,46 0,78 0,63 0,25 T-3 0,39 0,73 0,56 0,22 0,46 0,80 0,63 0,25 T-C 0,036 0,03 0,03 – 0,038 0,041 0,04 – ¹ajuste n Fonte: MONTES, 2017. Não houve diferença significativa (P > 0,05) para o parâmetro peso corporal inicial, enquanto para o parâmetro ganho médio diário houve diferença entre o controle, com animais suplementados apenas com suplemento mineral, e os tratamentos, com animais suplementados com suplemento mineral/proteico/energético, que alcançaram os maiores ganhos. Entretanto não houve diferença significativa de ganho animal entre as diferentes frequências de fornecimento do suplemento mineral/proteico/energético (Tabela 4). Tabela 4 – Indicadores técnicos de produtividade dos tratamentos                   avaliados. Indicador Unidades T-7 T-5 T-3 T-C Média CV% PCI kg 230,8ª 233,8a 230,2a 234,0a 232,2 9,45 PCF kg 284,4 290,2 285,0 261,8 280,4 – GMD kg/dia 0,840ª 0,881a 0,916a 0,434b 0,770 26,50 Medias seguidas por letras diferentes na linha diferiram entre si estatisticamente pelo Teste de Tukey a 5% de significância. CV = coeficiente de variação; T-7 = suplementação

Suplementação Animal em Pasto – Parte 01

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Estou escrevendo esse texto no dia 04 de junho de 2025, faltando apenas 17 dias para a entrada da estação de inverno, que na maior parte do território brasileiro coincide com a estação seca do ano. Escreverei uma sequência de artigos associando o manejo de pastagens com a suplementação animal em pasto, estratégia que possibilita maximizar o desempenho individual e a produtividade por área. Para tal vou usar o banco de dados que tenho de resultados de pesquisas que orientei em fazendas de pesquisa e de resultados de campo em fazendas comerciais que atendo e de resultados de pesquisas de outras fontes. Estes artigos serão escritos em duas etapas, a primeira agora no período da seca, com resultados deste período, e a segunda no período das chuvas, com resultados deste período. Os primeiros resultados que apresentarei são de um experimento conduzido no bioma Cerrados, entre os meses de junho e setembro, na estação de inverno, que na região tropical do Brasil, coincide com o período da seca, totalizando 95 dias. Objetivou-se neste experimento avaliar os efeitos de diferentes níveis de suplementação proteica-energética sobre o desempenho animal e as características de carcaça de bovinos machos inteiros da raça Nelore. O trabalho foi conduzido em uma área total de 8 hectares (ha) dividida em dois módulos de pastoreio, de 4 ha cada, divididos em 12 piquetes. Em um dos módulos estava estabelecido o Panicum maximum cv. Mombaça e em outro o Panicum maximum cv. Tanzânia. O método de pastoreio utilizado foi o de lotação rotativa. Durante o experimento foram avaliados 22 bovinos da raça Nelore, machos inteiros, com taxa de lotação de 2,75 cabeças/ha (22 animais/8 ha). Não houve período de adaptação porque antes do início deste experimento os animais já estavam nestas pastagens suplementados com suplemento múltiplo protéico/energético no nível de 0,3% do peso corporal. Durante o experimento os animais foram suplementados com suplemento concentrado nos níveis de oferta de 2% (T1) e 1,5% (T2) do peso corporal. Cada tratamento foi encerrado quando alcançou um consumo total de 500 kg do suplemento. No 75° dia experimental o grupo de animais do T2 atingiu tal consumo e os animais do T1 permaneceram mais 20 dias, totalizando 95 dias experimentais. Durante o experimento foram feitas três pesagens, a primeira no início do experimento, a segunda aos 75 dias e uma terceira, só para os animais do T1, aos 95 dias. Antes de cada pesagem e avaliação por ultrassonografia os animais foram submetidos a períodos de jejum de sólidos por 16 horas. Para avaliação das características de carcaça foi utilizado o aparelho de ultrassonografia Aloka SSD 500V (EletroMedicina Berger, Ltda), equipado com um transdutor linear de 3,5 MHz de frequência e 17,2 cm de comprimento. Foi utilizado óleo vegetal como acoplante acústico. As imagens foram salvas em computador e posteriormente analisadas em software específico por técnico certificado. A partir dessas mensurações foram obtidas 88 imagens coletadas. Os dados de área de olho do lombo (AOL) foram mensurados entre a região da 12a e 13ª costelas, transversalmente ao músculo Longissimus dorsi, já a espessura de gordura subcutânea (EGS) foi medida a ¾ da borda medial sobre o mesmo músculo Longissimus dorsi, e as imagens de espessura de gordura da picanha (EGP), coletadas na garupa, entre o íleo e o ísquio, sendo avaliada a espessura de gordura na picanha. Por meio das imagens de ultrassom foram calculados, por equações de predição, o peso e a percentagem da porção comestível das carcaças, (PERPC e PESPC), a fim de estimar o rendimento dos cortes de alto valor comercial. Após a última pesagem e avaliação por ultrassonografia dos animais de cada tratamento, foi realizado o embarque e transporte até o frigorífico, com uma duração de viagem de aproximadamente 4 horas. O abate foi realizado no dia seguinte, sendo os animais submetidos às etapas no frigorífico: recepção, banho de aspersão, atordoamento, sangria, esfola, evisceração, corte de carcaça e refrigeração. Os animais foram pesados ao final da linha de abate onde se obteve o peso de carcaça quente (PCQ). Com base nesses dados foi calculado o rendimento de carcaça dos animais (RC). O delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, sendo os dados submetidos à análise estatística pelo software SISVAR, versão 5.1, e as médias comparadas teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Na tabela a seguir estão descritos os resultados do desempenho dos animais em pasto e das características de suas carcaças. Os dados apresentados foram coletados nos dias 95 e 75, para os tratamentos 1 e 2, respectivamente. Tabela 1. Resultados de desempenho animal suplementados em pasto e das características de suas carcaças avaliadas por ultrassonografia. Parâmetro Unidade T1 (1,5% PC)   T2 (2,0% PC) PCi kg 397,09 a 395,27 a PCf kg 508,63 a 498,81 a PCm kg 452,86 447,04 GMD                  kg/cabeça/dia 1,174 b 1,380 a EA kg de ganho/kg consumido 0,17 0,15 GC kg/cabeça/dia 0,96 1,24 TLi UA/ha 2,42 2,41 TLf UA/ha 3,10 3,04 Produtividade kg/ha em 75 dias 242 284 Produtividade @/ha em 75 dias 9,19 11,06 RC % 56,96 b 58,30 a PCQ1 kg 289,68 a 290,72 a PCQ2 @ 19,31 19,38 AOL cm2 78,29 a 73,93 b EGS mm 4,57 a 3,86 b EGP mm 6,79 a 5,80 a PESPC kg 207,82 a 200,96 a PERPC % 70,85 a 70,84 a PCi: peso corporal inicial; PCf: peso corporal final; PCm: peso corporal médio; GMD: ganho médio diário; EA: eficiência alimentar; GC: ganho de carcaça; TLi: taxa de lotação inicial; TLf: taxa de lotação final; RC: rendimento de carcaça; PCQ: peso de carcaça quente; AOL: área de olho de lombo; EGS: espessura de gordura subcutânea; EGP: espessura de gordura da picanha; PESPC: peso da porção comestível; PERPC: percentagem da porção comestível. Letras iguais, na linha, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de

Resultados de Produtividade em Sistemas de ILP – Parte 02

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. No mês de janeiro de 2025 escrevi para esse site dois artigos sobre o estabelecimento da pastagem nos sistemas de integração lavoura/pecuária parte 1 e parte 2. Já no dia 13 de maio de 2025 escrevi um artigo sobre manejo do pastoreio em sistemas de ILP, e em 21 de maio de 2025 escrevi sobre resultados de produtividade da pecuária em sistemas de ILP. Essas datas não foram por acaso, mas sim baseadas na sequência de etapas em um sistema de ILP na modalidade de sucessão de culturas tipicamente conduzidas em regiões agrícolas no qual as safras, primeira e segunda, ocorrem entre setembro/outubro a janeiro/fevereiro, e entre janeiro/fevereiro a junho/julho. Hoje, dia 27 de maio, escreverei sobre resultados de produtividade da agricultura nesses sistemas. Além dos ganhos diretos da pecuária, em desempenho individual e em produtividade por hectare, como descritos no artigo da semana passada, se tem os ganhos trazidos pela palhada deixada pela planta forrageira ou por esta com a da cultura agrícola. Em avaliações conduzidas no Estado do Mato Grosso do Sul, no cultivo solteiro de milho, a massa de palhada inicial logo após a colheita dos grãos foi de 4,0 toneladas de matéria seca por hectare (t de MS/ha), e a massa final foi de 2,0 t de MS/ha, enquanto nas áreas em consórcio de milho com plantas forrageiras a massa inicial variou entre 8,1 a 8,4 t de MS/ha, e a final entre 2,3 a 2,5 t de MS/ha. Observa-se aí a contribuição da biomassa das plantas forrageiras no consórcio com o milho. Em avaliação conduzida no Estado de Goiás, a massa de forragem inicial variou entre 5,9 a 8,7 t de MS/ha no pré-pastejo, e no final do período de uso da pastagem a massa de resíduo pós-pastejo variou entre 0,9 a 2,9 t de MS/ha. Os animais foram retirados da área que ficou em descanso para a rebrota e acúmulo de forragem e na pré-dessecação, antes do plantio de soja, as massas de forragem variaram entre 3,1 a 5,6 t de MS/ha. Resultados de fazendas comerciais no estado de Goiás refletem expressivamente os ganhos da ILP que possibilitou o aumento na taxa de lotação de 0,4 UA/ha para 2,0, a produtividade da terra de 2,0 para 16 @/ha após cinco safras, enquanto as produtividades de soja aumentaram de 40 para 60 sacas/ha e a de milho de 80 para 180 sacas/ha. Há uma enorme preocupação dos agricultores com a queda de produtividade das lavouras das culturas agrícolas principalmente na modalidade de ILP de “consórcio cultura agrícola/pastagem”, também denominada tecnicamente por “plantio de pastagem com cultura acompanhante”. Experimentos conduzidos, principalmente nos estados das regiões Sul e Centro Oeste com diversas culturas agrícolas, tais como arroz, milho, soja, sorgo, trigo, consorciadas com capins forrageiros, principalmente dos gêneros Brachiaria sp e Panicum sp (região tropical do Brasil), e Avena sp e Lolium sp (região subtropical do país) com métodos de semeadura do capim forrageiro a lanço e em linha, as produtividades dessas culturas foram iguais na modalidade “cultura solteira”, mas em muitos experimentos e em fazendas comerciais, as produtividades das culturas agrícolas aumentaram. Por fim a eficiência de uso da terra em sistemas de cultivo exclusivo de soja e de milho são de apenas 42% e 50% dos 12 meses do ano, respectivamente, enquanto em sistemas de sucessão soja > milho safrinha é de 80%; de soja > milho > pastagem ou de milho > pastagem é de 92% e na modalidade de integração lavoura/pecuária/floresta (ILPF) é de 100% do tempo. A relação de benefício/custo da ILP tem sido em média de R$ 3.7/R$ 1 e a chance de um empreendimento agropecuário apresentar resultado econômico negativo, com base na renda líquida é de 52% (aproximadamente cinco anos em 10 anos) em um sistema exclusivo de lavoura de grãos, de 39% (quatro anos em 10 anos) em um sistema exclusivo de pecuária de corte, e de apenas 26% (2.5 anos em 10 anos) em um SIPA na modalidade de ILP. Na próxima edição descreverei as bases para o estabelecimento da pastagem em sistemas de ILP – aguarde.

Resultados de Produtividade em Sistemas de ILP – Parte 01

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. No mês de janeiro de 2025 escrevi para esse site dois artigos sobre o “estabelecimento da pastagem nos sistemas de integração lavoura/pecuária (ILP)”. Já no dia 10 de maio de 2025 escrevi um artigo sobre “manejo do pastoreio em sistemas de ILP”. Hoje, 17 de maio de 2025 escreverei sobre resultados de produtividade da pecuária em sistemas de ILP e na próxima semana escreverei sobre resultados de produtividade da agricultura nesses sistemas. Uma vez diagnosticado a viabilidade da adoção da ILP é preciso definir como os componentes lavoura e pecuária serão integrados, se em rotação (por exemplo, 1 a 3 anos de pastagens com 1 a 3 anos de lavoura na mesma área em anos diferentes), ou consorcio (por exemplo, plantio anual de arroz, ou milho ou sorgo consorciados com plantas forrageiras numa mesma área ou em áreas diferentes) ou sucessão (por exemplo, soja > pastagem, ou soja > milho ou sorgo consorciados com planta forrageira > pastagem, na mesma área e no mesmo ano). Na sucessão de culturas é comum na Região Sul do país soja ou milho na primavera/verão (safra) > aveia e ou azevém e outras forrageiras de inverno no outono/inverno (segunda safra ou safrinha), enquanto no restante do Brasil o mais comum é soja ou milho na primavera/verão (safra) > milheto ou sorgo para pastejo ou Brachiaria/Panicum, no outono/inverno (segunda safra ou safrinha). Alguns exemplos para a sucessão de culturas na região tropical do país são: i)milho ou sorgo ou milheto consorciados com capim de outubro/novembro a março/abril > pastagem de maio/junho a setembro; ii)soja de outubro/novembro a fevereiro/março > milho ou milheto ou sorgo consorciados com capim de fevereiro/março a junho/julho > pastagem de julho/agosto a setembro; iii)soja de outubro/novembro a fevereiro/março > plantio direto de forrageiras anuais ou perenes de março a abril > pastagem de maio/junho a setembro; iv)soja de outubro/novembro a fevereiro/março > sobressemeadura de forrageiras perenes ou anuais no final do ciclo da soja > estabelecimento da pastagem em março/abril > pastejo de maio/junho a setembro. Na tabela 1 estão resumidos resultados de pesquisas da produtividade da pecuária em sistemas de ILP na modalidade de sucessão de culturas soja > pastagem. Tabela 1 – Indicadores de produtividade da atividade pecuária em sistemas de integração lavoura/pecuária na modalidade de sucessão de culturas. Parâmetro Unidade Valor Massa de forragem t de MS/ha 5,6 a 9,1 (Estado do MS) e 5,9 a 8,7 (Estado de GO) Palhada de forragem mais de milho t de MS/ha 7,4 a 11,9 (Estado do MS); 8,1 a 8,4 (Estado de GO) Taxa de lotação UA/ha 1,95 a 3,2 (Estado de GO) PB, NDT, FDN e FDA na forragem % 8,5 a 11,5 (PB); 59 a 61 (NDT); 66 a 68 (FDN) e 39.5 a 44 (FDA) (Estado de GO) GMD kg/cabeça/dia 0,47 a 0,70 (média 0,58); 0,592 a 0,712 (média 0,636) (Estado de GO) Produtividade @/ha 9,5 a 13,7; 11 a 18 (Estados de MS e GO) t de MS/ha: toneladas de matéria seca por hectare; UA/ha: unidade animal por hectare; PB: proteína bruta; NDT: nutrientes digestíveis totais; FDN: fibra em detergente neutro; FDA: fibra em detergente ácido; GMD: ganho médio diário; Estados de MS e GO: Mato Grosso do Sul e Goiás. Nos experimentos conduzidos no estado de Goiás as taxas de lotação médias variaram entre 1,95 a 3,2 UA/ha, dependendo da espécie/cultivar da planta forrageira, iniciando com 2,27 a 5,09 UA/ha e no final com 1,12 a 1,55 UA/ha. Nestes trabalhos o período de pastejo nas pastagens de inverno, foi de 140 dias e os animais avaliados pesaram no início da avaliação entre 228 e 237 kg e foram suplementados com suplemento mineral. As pastagens brasileiras na média, em 12 meses, têm sido lotadas com 0,70 UA/ha e entregado ganho médio diário de 0,23 kg/cabeça/dia e produtividade da terra de 3,7 @/ha/ano. Apenas na modalidade de sucessão de culturas, na qual a pastagem é explorada por apenas menos de cinco meses por ano, as produtividades têm sido acima de 9,0 @/ha. No Estado do Mato Grosso do Sul em fazenda de pesquisa a produtividade da pastagem degradada de Brachiaria decumbens foi de 4,7 @/ha, em pasto não degradado e adubado por quatro anos a produtividade alcançada foi de 12,7 @/ha e em pastagem explorada por quatro anos sem adubar, mas após quatro anos de soja adubada, a produtividade foi de 13,9 @/ha.  Em fazenda comercial no Estado do Mato Grosso do Sul em pastagem degradada os indicadores alcançados foram 0,9 UA/ha, 0,211 kg/cabeça/dia de ganho médio diário e produtividade de 3,4 @/ha; enquanto em pastagem recuperada diretamente por meio de correção e adubação do solo alcançou-se 1,68 UA/ha, 0,467/cabeça/dia e 19,9 @/ha; na pastagem pós cultivo de arroz: 1,81 UA/ha, 0,434/cabeça/dia e 19,8 @/ha e na pastagem pós cultivo de milho: 1,94 UA/ha, 0,443/cabeça/dia e 22,3 @/ha. Em fazendas comerciais no estado de São Paulo a ILP possibilitou o aumento na taxa de lotação de 1,3 UA/ha para 2,2 UA/ha, o ganho médio diário de 0,185 para 0,469 kg/cabeça/dia, e a produtividade da terra de 2,4 para 16 @/ha após cinco safras.

O Manejo do Pastoreio nos Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP)

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. No mês de janeiro de 2025 escrevi para esse site dois artigos sobre o “estabelecimento da pastagemnos sistemas de integração lavoura/pecuária” e conclui o texto do segundo artigo assim: “por enquanto é isso, a soja ainda precisa completar seu ciclo, ser colhida, a pastagem estabelecida …: lá pelo mês de maio escreverei uma sequência de artigos sobre o manejo do pastoreio em pastagens no sistema de ILP – aguarde. Hoje, dia 13 de maio de 2025, chegou o momento para dar sequência ao proposto.  Em fazendas cuja atividade é apenas a pecuária a infraestrutura desejável das pastagens deve buscar piquetes de formato quadrado com área de até 7 ha, pastagens redivididas com cercas convencionais e ou elétricas, água suprida em bebedouro em qualidade e quantidade, cochos dimensionados para o tamanho do lote de animais, sombreamento bem dimensionado para o lote de animais.  E qual infraestrutura o pecuarista precisa em um sistema de ILP? Neste sistema nem sempre é possível ter a infraestrutura desejável sem atrapalhar o rendimento operacional das máquinas, implementos e veículos durante a fase da agricultura no sistema ILP. Assim os piquetes nem sempre tem o formato quadrado e são grandes, porque de fato são talhões de lavoura; nem sempre têm sombreamento natural, provido por arvores, porque estas são suprimidas. Como os talhões são relativamente grandes os animais andam mais até os pontos onde está a infraestrutura de bebedouros, cochos, sombreamentos, levando a condição de pastejo desuniforme, com áreas subpastejadas e com áreas superpastejadas em um mesmo talhão. E nas áreas superpastejadas ocorre problema de plantabilidadeda cultura agrícola por causa do adensamento do solo, e nas áreas subpastejadas pode haver excesso de palhada que também compromete a plantabilidade.  Muitos produtores que atendo têm minimizado esta condição indesejável com o uso de cercas elétricas móveis e outros que atendo têm preferido colher e conservar a forragem disponível nas áreas de ILP nas formas de feno, présecado e silagem. No manejo da pastagem, o manejo do pastoreio é o procedimento diário de conduzir os animais para colher a forragem disponível. Aqui o objetivo é alcançar pressão ótima de pastejo quando a taxa de lotação é ajustada à capacidade de suporte da pastagem, e maximizar o consumo de forragem pelo animal para maximizar seu desempenho, alcançar a taxa de lotação suportada para maximizar a produtividade por área, e ao mesmo tempo preservar o solo e o estande de plantas do pasto. E em um sistema de ILP tem objetivos além destes? Sim, pois além dos ganhos diretos da pecuária, em desempenho individual e em produtividade por hectare, se tem os ganhos trazidos pela palhada deixada pela planta forrageira ou por esta com a da cultura agrícola.  No cultivo solteiro de milho, a massa de forragem inicial logo após a colheita dos grãos foi de 4 t de matéria seca/ha (MS/ha), e a massa de forragem final foi de 2 t de MS/ha, enquanto nas áreas em consórcio de milho com pastagem a massa de forragem inicial variou entre 7,0 a 8,5 t de MS/ha, e a final entre 2,5 a 4,0 t de MS/ha. Observa-se aí a contribuição da biomassa das plantas forrageiras no consórcio com o milho. Em grande medida os ganhos alcançados na lavoura na modalidade de ILP se deve aos efeitos das palhadas de forrageiras. Para cada 1.000 kg a mais de palhada por hectare acima de 2.458 kg de MS/ha no pré-plantio de soja foi possível aumentar em 364 kg/ha de grãos de soja ou aproximadamente 6 sacas/ha. E aqui vejo o principal erro cometido pelos produtores no sistema de ILP. Não deixar palhada suficiente para alcançar os ganhos que este componente traz para o sistema. E não deixar palhada suficiente significa “superpastejo” do pasto durante a fase que a área é explorada com pastagem. Assim, não é possível maximizar nem a produtividade da pecuária (o desempenho por animal e a produtividade por área), nem a produtividade da agricultura por deixar o solo mais exposto, mais adensado, por falta de palhada.  

Estabelecimento de Pastagens de Inverno – Parte 03

Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda. Continuando a sequência de artigos sobre o tema que intitula este texto (leia a Parte 01 e Parte 02 para compreender melhor o conteúdo desta terceira parte). Estou escrevendo este artigo no dia 3 de maio de 2025, portanto, já se passaram 43 dias desde o início do outono. Na terceira e última parte desta sequência, tratarei das pastagens de inverno em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). A semeadura das pastagens de inverno é realizada após a colheita da cultura agrícola cultivada na primavera/verão (outubro a março) ou simultaneamente ao plantio da cultura agrícola de segunda safra, entre meados do verão e meados do outono (fevereiro a abril). Na região subtropical do Brasil, são semeadas as mesmas espécies citadas anteriormente para o sistema de pastagens de inverno sobressemeadas sobre pastagens perenes tropicais e subtropicais. Já na região tropical, utilizam-se espécies forrageiras tropicais de ciclo perene, como as do gênero Brachiaria spp. e da espécie Panicum maximum, além de espécies de ciclo anual, como o milheto e o sorgo para pastejo. Se a área for cultivada apenas com a safra de primavera/verão, é possível adotar um destes dois métodos de semeadura: Caso haja atraso no plantio ou na colheita da cultura de primeira safra, a janela para semeadura da forrageira de inverno pode ficar estreita. Nessa situação, recorre-se à sobressemeadura aérea, feita com aviões agrícolas, semeadoras acopladas à barra do pulverizador, ou ainda com distribuidores de adubo a lanço, no final do ciclo produtivo da cultura agrícola. Se a área for cultivada com safra e segunda safra (safrinha) — como no caso da “dobradinha” soja/milho — a semeadura da forrageira ocorre no plantio da segunda safra. O produtor pode optar por: Neste artigo, já descrevi os potenciais de produção de forrageiras de inverno, como aveia e azevém. Por sua vez, as forrageiras de clima tropical em sistemas de ILP podem acumular entre 5,5 e 11 toneladas de matéria seca por hectare, com colheita possível em um período de 45 a 150 dias durante a estação seca. Essa ampla variação no tempo de uso está relacionada ao número de cultivos agrícolas realizados (um ou dois) e ao destino da cultura de segunda safra — como o milho, que pode ser colhido para silagem (planta inteira ou grão úmido) ou para grãos secos. Considerando um potencial médio de 7,4 t de MS/ha, a capacidade de suporte pode variar entre 1,37 e 5,5 UA/ha. Essa amplitude dependerá da oferta de forragem adotada, do período de pastejo disponível e da massa de forragem residual necessária para a formação da palhada visando o plantio direto da próxima safra. Além disso, a qualidade da forragem dessas espécies tropicais permite ganhos diários de peso entre 0,47 e 0,70 kg/animal, variação que também depende dos mesmos fatores já mencionados neste artigo para as forrageiras de clima temperado. Por fim, quanto à produtividade por área (em kg ou @/ha), deixo a estimativa a seu critério, de acordo com o modelo de produção adotado na sua fazenda.